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Entrevista com a Dra. Aline Okita sobre Inteligência Artificial aplicada à dermatologia




Transcrição da entrevista da Dra. Aline Okita para o Telix realizada no dia 13 de Setembro de 2024.


Entrevistadora: Marina Ghisi (M)

Convidada: Dra. Aline Okita (A)


M: Você tem problema de pele? Você acha que alguém que você ama pode ter câncer de pele? Então essa live é para você. Estamos aqui com a doutora Aline Okita. Ela é CEO da Kintsu, que é uma empresa que aplica inteligência artificial para ajudar quem tem problemas de pele e ela também é médica e dermatologista, formada pela USP e é consultora do Hospital Israelita Albert Einstein. Doutora, bom dia, seja bem-vinda!


A: Olá! Bom dia, obrigada pelo convite. Então, é um tema que eu adoro, então obrigada. Fico muito empolgada para poder ajudar muitos pacientes, muitas pessoas a olharem mais para essas questões de pele e de como a tecnologia, a inteligência artificial e todos esses recursos podem auxiliar no diagnóstico e no tratamento adequado dessas doenças.


M: Que legal! Doutora, só para a gente entender melhor, quais são os problemas de pele mais graves e perigosos? Existem vários, né? Então é até difícil de comentar, então o câncer de pele, obviamente, principalmente o melanoma, é um dos mais graves, né? Então ele pode realmente espalhar e ir para outros lugares e tem uma taxa de letalidade, é o que tem maior taxa de letalidade comparado com outros cânceres de pele, mas existem várias outras doenças que também podem ter desfechos ruins. Então, por exemplo, existem doenças graves como a dermatite atópica, que é uma coisa super normal, então todo mundo tem um filho que tem uma dermatite, que tem uma alergia, e tem pessoas que ficam muito graves, crianças às vezes que ficam graves e precisam ficar internadas para fazer o seu tratamento, por causa de infecção secundária. Às vezes pode acabar precisando até de internação em UTI, podem ter complicações de infecções, assim como doenças bolhosas também. A psoríase pustulosa, que a gente tá falando muito agora também, podem ter quadros bem graves e o paciente precisar de internação.


M: Nossa, nem imaginava que tinha essas outras doenças complicadas. Eu achava que parava no câncer de pele. Deixa eu perguntar pra vocês que estamos assistindo: algum de vocês tem ou teve algum problema de pele? Vou pedir para você contar para a gente nos comentários como é que foi a tua experiência com esse problema. E se vocês tiverem alguma pergunta para a doutora Aline, vocês podem fazer em qualquer momento da entrevista. A gente não vai na hora interromper a entrevista, mas no final da entrevista vai ter um momento para que a doutora vai responder as perguntas aí. E eu queria agradecer que já teve cinco pessoas que mandaram perguntas pela caixinha de perguntas que a gente colocou nos nossos stories do Insta. Então, obrigada! As perguntas de vocês vão ser respondidas! Voltando ao tema, doutora: nós vimos no seu perfil que você publicou um estudo sobre como reconhecer câncer de pele usando fotos tiradas por celular comum, é isso mesmo? 


A: Sim, exato. Esse é um trabalho que eu já venho fazendo há bastante tempo, em várias áreas, inclusive, e muito ali com o Hospital Israelita Albert Einstein. Então, em algumas pesquisas de como a gente poderia usar fotos que o paciente mesmo possa tirar para identificar qual é a urgência dele procurar um médico, um dermatologista, um especialista. Porque muitas vezes aquele paciente fica “será que é grave ou não é?” e na nossa rotina você fala “vou ter que ficar passando no médico toda hora”. Então a ideia é a gente poder democratizar o acesso a esse tipo de informação. Então que o paciente pelo menos possa fazer uma triagem, obviamente que isso não substitui a avaliação do médico, mas que ele possa fazer uma triagem e saber se ele precisa procurar com urgência um dermatologista, ou se ele pode, de repente, ficar um pouco mais tranquilo e passar num generalista e aguardar porque aquilo lá provavelmente não é uma lesão grave. Então, a gente fez um trabalho muito grande pensando em quais seriam os tipos de urgência para esse paciente procurar o médico. Então, por exemplo, casos mais leves, ele pode aguardar ou pode procurar um generalista. De repente pode ser uma mancha mais superficial, podem ser lesões: são infecções superficiais que estão menos graves. Existem doenças que têm um tratamento específico, e são doenças crônicas, como, por exemplo, a psoríase, a dermatite, a psoríase pustulosa, a hidradenite, lichen planus… tem várias outras doenças que precisam de um acompanhamento dermatológico e de um tratamento. Então, precisa ir procurar o dermatologista e acompanhar. Agora, tem outras, como, por exemplo, o melanoma, como eu comentei, que é o quanto antes tem que ir avaliar porque precisa tirar essa lesão o quanto antes. Então, esse é o tipo de classificação que a gente fez ali, baseado em imagens.


M: Entendi. E como esse estudo pode impactar a vida das pessoas em geral? Por exemplo, a vida das pessoas que estão acompanhando a nossa live.


A: Perfeito. Hoje a gente discute muito a medicina do futuro. Então, como que vai ser essa medicina? Ela vai ser mais proativa em vez de reativa. Então, a gente não pode ficar esperando dar um problema para procurar só ficar ali tratando o que deu problema. O ideal é que a gente seja o mais precoce possível na detecção e no tratamento. Aqui falando da dermatologia, mas de todas as doenças, né? Então, inclusive, por isso que a gente precisa comer bem, fazer atividade física porque a gente previne de ter obesidade, problemas cardíacos e na pele? O quê? A gente precisa passar protetor solar, a gente precisa olhar para as antecipadamente ver se elas não estão mudando e aquelas que estão mudando: que estão com uma característica esquisita? que elas estão sangrando? elas estão crescendo rápido? Então talvez o paciente pudesse tirar uma foto e essa inteligência artificial vai falar, olha “você precisa ir logo procurar uma avaliação especializada para fazer uma detecção precoce”. Essa detecção precoce evita que essa lesão se espalhe, cresça demais. Então, se ela cresce muito, você tem que fazer uma cirurgia. Às vezes, se for no rosto, ela é mutilante. E se ela espalhar para outros lugares do corpo, às vezes precisa fazer uma quimioterapia. Os tratamentos ficam caros e aumenta, claro, o risco de mortalidade. Então, essa tecnologia pode ajudar esses pacientes a detectarem precocemente, fazerem procedimentos menos agressivos. E, claro, aumentar a sua chance de sobrevida.


M: Nossa, perfeito, doutora. É muito importante essa questão de fazer a detecção precoce. Que bom que vai ter essas ferramentas mais próximas dos usuários, né? E por que vocês decidiram usar a tecnologia de inteligência artificial especificamente nesse estudo?


A: Perfeito. A área da dermatologia é uma área muito visual, né? Então, isso é interessante. Então, uma das áreas iniciais foi a radiologia, né? Então, a radiologia tem muitas imagens e, por isso, a inteligência artificial que identifica padrões, ela começou a ser muito aplicada na radiologia e, em segundo lugar, na dermatologia, porque também a gente tem padrões de imagens. Então, esses padrões, eles ajudam no caso da inteligência artificial, porque ela identifica ali que um determinado padrão de lesões, ela é associada a um diagnóstico. Então, é onde a gente tem muitos estudos, por exemplo, com lesões dermatoscópicas, que é um aparelhinho específico que olha bem de perto a lesão, tipo uma lupa, e isso estava sendo muito estudado, né? Tem muitos algoritmos, muitas pesquisas e publicações com análise de imagem dermatoscópica. Quando a gente começou a pensar em inteligência artificial para dermatologia, quando a gente pensou no contexto aqui do Brasil e muito focado ali em tentar ajudar o médico generalista a poder olhar essas lesões com mais acuracidade porque hoje você passa na UBS, no sistema de saúde, na atenção primária, e ele vai ter que encaminhar de todas as lesões para o dermatologista. Tem uma fila enorme, essa fila às vezes chega a mais de seis meses para passar com o especialista. Então, o ideal é que ele possa fazer uma pré-triagem e avaliar quem tem que ir primeiro, e aqueles que não precisam, ele pode acompanhar e rever daqui três meses, seis meses, um ano. Então essa é a nossa proposta. Quando a gente for estudar, ali o sistema de saúde mais a fundo, indo visitar até esses médicos nas unidades básicas de saúde, a gente viu que não era tão fácil ter um dermatoscópio, a gente até tentou colocar alguns aparelhos nessas unidades, mas assim, ele tem que ficar guardado ali num armário, né? Que todo mundo vai compartilhar, então na hora que tá lá na consulta, naquela correria, ele vai ter que ir lá buscar o aparelho pra tirar foto: não era tão factível. Então a gente começou a pensar em fazer um modelo de análise com a foto do próprio celular, que não é o melhor dos mundos, né? Então tirar a foto do celular e poder analisar se ele, qual a probabilidade, né? De ser uma lesão maligna e quanto, quão urgente ele tem que passar com o dermatologista. Então nós começamos a trabalhar nesse movimento de analisar imagens do próprio celular tiradas pelo médico. E aí, a partir disso, surgiu esse outro estudo que foi a última publicação, pensando em levar isso para a mão do paciente, que é um futuro. Então, vamos colocar na mão do paciente para eles poderem tirar a foto sozinhos e poderem se autotriar e tomar uma decisão mais assertiva em relação à sua saúde. E é esse próximo passo que agora nós estamos estudando. Então, esse modelo... Ele é um modelo teórico ali, à base de lesões. E agora, pra colocar ele na prática, têm próximos passos da gente fazer treinamento pros pacientes para poderem tirar fotos, né? Orientar como que deve ser a melhor forma de analisar essa lesão, como que ele deve se comportar. Então, agora a gente tá estudando esses próximos passos.


M: Entendi. Doutora. Para esclarecer para a gente o que é a inteligência artificial, a doutora falou que a inteligência artificial foi usada em radiologia e tal para identificar padrões de imagens, mas para as pessoas que não estão muito familiarizadas com esse assunto, o que é a inteligência artificial? Como é que ela funciona para poder fazer esse serviço de identificar os padrões das imagens?


A: Perfeito, ótima pergunta. A inteligência artificial, ela surgiu num conceito de substituir tarefas humanas que precisam de um conhecimento específico cognitivo, então, por exemplo, digamos, para fazer uma, limpar uma casa, então a gente tem lá os robôs, né? Que fazem a limpeza da casa, então é Ele precisa de certas funções ali para serem exercidas. Então, a inteligência artificial pode ser aplicada em várias coisas. Então, a gente tem vários subtipos, inclusive, de inteligência artificial. Então, a gente vê isso já, por exemplo, no Google Maps, que a gente usa no dia a dia, ou no Waze, que ele identifica ali qual que é o melhor caminho para você fazer para chegar em um determinado lugar. Na prática do dia a dia, a gente tem visto o chat GPT, por exemplo, que também é um subtipo de inteligência artificial, a inteligência artificial generativa, que a gente consegue conversar com ela compreende as informações e traz uma outra resposta para a gente. No caso da medicina, a gente tem a inteligência artificial aplicada a várias áreas, então, por exemplo, no diagnóstico, como a gente está falando, então ela pode tanto olhar pro padrão do paciente, então ele pode falar os sintomas, e ele olhar pra uma base de dados grande e falar, olha, o seu caso parece com esse caso, por exemplo. Então pode ser que seja esse diagnóstico, né? Ele pode olhar pras imagens, que é o que a gente tá fazendo, né? Então a gente pegou um montão de imagens, então imagina milhares e milhares de imagens, e eu posso falar pra ele, isso daqui é câncer? Isso não é. Isso é, isso não é, isso é, isso não é. Beleza. Ele vai olhando e vai aprendendo olhando naqueles detalhes. Assim como nós médicos. Nós olhamos e falamos, olha, quando tá mais assim irregular, é mais de câncer. Quando tá com uma determinada cor, mais escura, é mais de melanoma, é mais câncer. E assim não é. E a gente vai identificando esses padrões pra que quando chega uma nova lesão e a gente mostre pra essa inteligência artificial, ela possa olhar esses padrões e falar, olha, pelos padrões a probabilidade maior é que seja de câncer ou não. Então, isso no caso do diagnóstico. Outras coisas que a gente tem feito também é em relação à avaliação de gravidade de doença. Então, eu sou uma apaixonada aqui pelas doenças também imunomediadas, né? Então, por exemplo, a psoríase, a dermatiatópica, a hidradenite ou urticária crônica. Essas doenças, elas geralmente são crônicas e o paciente fica anos vivendo com essa doença, e você precisa avaliar qual é a gravidade da lesão, e ela determina qual o tipo de tratamento que esse paciente deve usar. E para avaliar a gravidade, existem determinados critérios, às vezes é muito baseado no tipo de lesão, então o que a gente desenvolveu também foi tirar uma foto de corpo inteiro do paciente e ele fala qual é a gravidade da extensão da lesão. Porque no dia a dia é difícil pra gente médico parar e ficar contando, olhar quantas lesões que tem, qual é a porcentagem do corpo acometido. Então a inteligência artificial diminui o tempo meu pra eu ficar gastando pra fazer uma coisa que ela pode fazer rapidinho. E aí isso sobra mais tempo pra eu falar com o paciente, pra eu entender quais as necessidades dele, pra eu explicar como faz um tratamento. Então, desse jeito, a inteligência artificial também ajuda muito o médico a atender melhor, a ter um atendimento de qualidade maior.


M: Entendi. Doutora, então, depois que você ensinou a inteligência artificial, isso aqui é câncer, isso aqui não é câncer, como é que vocês conferiram se a inteligência artificial acertou ou errou nas suas conclusões? Deu para confiar, assim, na análise da inteligência artificial?


A: Ótima, ótima pergunta. A gente sempre divide em etapas, né? Então, você tem uma etapa de treinamento. Então, a gente pega várias imagens e vai mostrando lá: É, não é? É, não é? Então, a gente vai mostrando lá pra inteligência artificial nesse treino. Então, é ensinar, né? Tipo, ensinar ela alguns conceitos. Beleza. Quando você vai ensinando, aí você vai mexendo em algumas coisas ali, né? Pra ir modulando esse aprendizado. E aí, modelando o aprendizado, e depois você vai fazer um teste. E aí você pega, separa uma quantidade de novas imagens e mostra para essa inteligência para ver se ela está acertando. E aí a gente tem várias métricas para avaliar essa quantidade de acerto. Então, por exemplo, a acurácia, enfim, aí são coisas específicas, sensibilidade, especificidade, a gente olha qual o nível de acerto dessa inteligência. Beleza. E depois a gente faz ainda uma validação, então a gente pega imagens, outras imagens que ele nunca tenha visto, pra validar o quanto que ela tá acertando. E aí isso é contínuo, porque esse aprendizado é contínuo, então quanto mais vezes ela for vendo e quanto mais a gente ensinar o que está certo e o que está errado, a gente pode ir melhorando esse modelo para ir elevando esse nível de acerto. Hoje em dia, a gente procura obter pelo menos acima de oitenta por cento de acurácia no modelo e diminuir ao máximo os erros em relação a falso negativo. O que significa isso? É, o paciente que tem, nesse caso, né? Nesse caso específico, quando a gente tá falando de câncer e não câncer, se eu falar pra um paciente que não tem câncer, a lesão dele é benigna, por exemplo, é só uma manchinha, e eu falar que é um câncer, ele vai ficar, claro: tenso. Vai ficar preocupado, né? Vai ter que ir lá tirar a lesão, vai fazer uma biópsia, vai ficar com uma cicatriz por causa dessa biópsia: esse é o impacto do erro. Quando a gente fala pra um paciente que é um câncer, e a gente fala para ele que não é, provavelmente, e ele não faz nada, esse é o pior caso. Porque se ele não fizer nada, ele vai ficar lá na vida dele, vai demorar, ele vai chegar, eu atrasei o diagnóstico dele, e aí ele pode chegar num grau mais elevado e ter mais complicação de não ter tratado. Então, o falso negativo, que ele era, na verdade, lesão, e eu falei que não era, esse é o pior dos casos. Então, o que eu preciso fazer nessa inteligência artificial, nesse modelo específico, é diminuir ao máximo o meu nível de erros desses falsos negativos. Então, para cada caso é um caso,. Porque se eu for falar de um outro modelo de inteligência artificial para, por exemplo, sei lá, fazer screening de câncer de mama, aí é outra situação, né? Então, para cada caso eu tenho que pensar no qual resultado principal que eu quero minimizar no impacto na vida real. E aí a gente faz esses testes e aí a gente vai fazer essa validação para ver o quanto que ele acerta e depois a gente vai implementando e sempre tendo ali uma avaliação ainda complementar, às vezes, com o médico, para ele ainda falar se está certo ou não, até a gente ganhar essa confiança. Então, hoje, para você colocar, por exemplo, esses modelos rodando na vida real mesmo, na mão do paciente, etc. existem muitos sistemas regulatórios. Então, a Anvisa, ela analisa esses algoritmos, esses softwares, qualquer tecnologia... pra ver a segurança que vai ter isso na mão do paciente, na mão do médico, do que for. Como se fosse uma vacina, como se fosse um medicamento. Porque eu não posso pegar e sair aplicando uma vacina em todo mundo e dar um monte de problema. Isso também, porque a tecnologia hoje, se eu coloco ela pra rodar e ela começa a causar prejuízo na saúde dos pacientes, é muito perigoso. Então existe todo um sistema regulatório por onde essas tecnologias, inteligência artificial, softwares, precisam ser avaliadas, para ver o grau de segurança que tem para elas serem usadas na prática.


M: E no estudo de vocês, na conclusão de vocês, é que é seguro. A IA funciona. A previsão de vocês é que vai dar certo. Ou já deu certo nesse estudo.


A: A gente fez esse estudo, então o que a gente fez? O algoritmo e o modelo de análise da inteligência artificial e testou com as imagens. O próximo passo que está sendo levantado agora é mais imagens, então esse é um grupo específico da inovação do Albert Einstein que está fazendo essa parte da continuidade, de ter mais imagens agora coletadas da vida real para melhorar mais ainda a performance disso. E depois tem que ir para a vida real ainda testar comparativamente o quanto que a inteligência acerta versus um dermatologista na vida real. E aí esse é o próximo passo de fazer o teste comparativo. Será que um dermatologista, daria esse mesmo diagnóstico do que a inteligência artificial, se der: tá ótimo. Porque aí a gente consegue realmente falar que ele porque é óbvio que o dermatologista também não acerta cem por cento, então, se ele se comparar, né? Com o resultado do que daria num dermatologista, então a gente consegue comprovar que não teria esse, teria um impacto positivo, né? Então ainda a gente tá neste momento antes de colocar na mão dos pacientes.


M: Entendi, então ainda tá em evolução a ferramenta, vocês mesmos ainda não chegaram a uma conclusão, se ela vai… a conclusão definitiva, se ela vai ser positiva ou não? Ainda não foi, não se chegou ainda.


A: Exato. Hoje, assim, acho que tem muitos poucos, menos assim, de talvez dez por cento das inteligências artificiais criadas na dermatologia, especificamente, vão rodar na vida real. Porque tem muita imagem, todo mundo desenvolve o modelo, mas pra colocar na prática, é bastante complicado por causa dos riscos. Então, assim, é... Esses projetos, inclusive dessa publicação e das outras que a gente já fez, lá pelo iPhone, eles estão indo muito bem, mas provavelmente ainda tem alguns passos ainda para eles irem para o ar na vida real.


M: Legal, doutora. Eu vou contar para você uma história de uma pessoa bem querida na minha vida. Na pandemia, ela começou a ter uma secreção na mama. E o médico que atendeu achou que fosse alérgico: eu uma pomadinha e tal. Ela acabou voltando pro médico várias vezes. Dois anos depois, a secreção não tinha passado ainda. Aí eles acabaram fazendo uma biópsia e descobriram que era câncer. Se esse câncer tivesse sido descoberto lá no começo, ela talvez tivesse que ter extraído só a auréola, mas ela acabou tendo que extrair o seio inteiro. Graças a Deus, né? Extraiu o seio, ela tá viva, tá bem. Mas essas situações me deixam muito assustada. Imaginar que uns problemas, né? Aparentemente pequenos, né? ´Podem colocar nossa vida em risco, é muito perturbador. E eu imagino para os médicos, né? Como você falou no atendimento primário de saúde, que tem essa responsabilidade, né? De dizer para a pessoa o que fazer, então eu acho esse estudo que vocês fizeram muito importante, muito legal. Estou torcendo para ele avançar e dar certo, porque realmente pode trazer grandes benefícios pras pessoas, né? E evitar problemas graves. Super legal, doutora. 


A: Perfeito.Essas lesões, às vezes, é difícil, né? Então, assim, você vê o paciente passa e fica meio assim. Então, essa recidiva de, tipo, assim, não melhorou, recorrente, tá esquisito, é nesses casos, especificamente, que a gente precisa, né? Procurar o especialista, avançar, ter uma segunda opinião e é onde ele pode ajudar porque às vezes a gente fica na dúvida. Até tudo bem, a primeira vez você falou assim “acho que é só o mais comum”. Noventa por cento dos casos é uma alergia, beleza: passou uma pomada, ok. Voltou, não melhorou: tem que desconfiar. Então nesses casos poderia muito bem “vamos tirar uma foto” e ele vai falar assim: “olha, isso aí não tá bom, precisa realmente seguir pra uma biópsia antes, né, antes de esperar tanto tempo e a doença evoluir”. É nisso que a gente pode impactar, e a gente já vê impacto em muitas áreas, né? Nessa questão preventiva, né? Então assim, se o paciente… se a inteligência artificial tá ali olhando sempre pra esse paciente, né? Ela consegue dize “olha, ele não tá evoluindo bem, ele precisa de uma outra abordagem”, né? Mais precoce, precisa mudar o tratamento, ou dentro de hospital, às vezes a gente tem inteligência artificial que fala “esse paciente aqui tá monitorizando e vê que os parâmetros dele tão piorando, esse paciente aqui vai piorar”. Então a gente consegue abordar antes dele piorar, é esse o impacto final que a gente consegue com inteligência artificial. 


M: Legal. Doutora, se alguém aqui na nossa audiência estiver suspeitando, então, de uma mancha de pele, né? O que ele deve fazer? Qual que deve ser o procedimento da pessoa que está suspeitando de uma mancha?


A: Perfeito. Então, quais que são as características, né? perigosas. Então, a gente, para o melanoma, por exemplo. Então, quando essa lesão, ela é, por exemplo, assimétrica, né? Então, ela tem um formato que ela não é uma bolinha, ela tem um lado e o outro lado é, tipo, todo estrelado, esquisito. Esse formato assimétrico é ruim. Se as bordas, ela não é uma bolinha, a borda, ela é toda irregular também, isso daí é um sinal ruim. Se ela tem muitas cores, então ela não é só uma cor: ela tá marrom, vermelho e preta, isso é estranho. Se ela é muito grande ou se ela começa a evoluir muito rapidamente, crescer muito rapidamente no diâmetro ou mesmo no lavar, ela começa a sair da pele, né? Isso são sinais que a gente deve se preocupar e deve procurar um dermatologista pra olhar essa lesão. Isso pro melanoma. Quando a gente tem outras lesões que são feridas, então às vezes as pessoas têm, né? As pessoas de pele mais clara que já tomaram muito sol a vida inteira, às vezes aparecem feridinhas, assim, nas áreas expostas ao sol, que ficam meio sangrando, cicatriz, volta, cicatriz, volta. Esses são sinais preocupantes também que a gente precisa procurar o dermatologista. Os homens às vezes têm na orelha, por exemplo, que é uma área que não cobre pelo cabelo, então acaba tendo. Quem não tem cabelo, às vezes tem muitas casquinhas no couro cabeludo. Tem gente que tem um monte de casquinha, né? Que a gente chama de ceratose actínica, fica meio áspera, meio grossa. Essas lesões, elas são pré-malignas, então elas podem, depois de um tempo, demora bastante, mas virar um câncer de pele, então elas precisam ser tratadas. A prevenção é o protetor solar, usar boné, etc. Por exemplo, assim, né? Enfim. Mas quando começa a evoluir pra essas casquinhas, essas feridinhas, dá pra gente tratar. Então tem que tratar precocemente antes que ela vire, né? Aí um câncer mesmo. E aí começa a ficar mais complicado. Tem áreas que são mais difíceis. Então, por exemplo, imagina uma lesão no nariz. Como é que você vai fazer uma cirurgia e tirar? Você nunca tira só ela. Você tem que tirar ao redor também. Então você tira, fica... fica um defeito que você tem que corrigir e é difícil ou perto do olho, né? Às vezes então, essa área do rosto também a gente tem que procurar o quanto antes porque ela é mais difícil. Tipo, é diferente de uma lesão no braço que você consegue tirar.  Então é desse jeito que a gente tem que se preocupar os pacientes às vezes. Eu vejo muito preocupados com “ah, eu preciso tomar vitamina D, enfim, preciso, tipo assim, ficar ao sol”, né? E ficam muito tempo, também não precisa tanto tempo, assim, então uma área que você fica exposto, dependendo do tipo de pele. Claro, pessoas mais claras menos tempo, pessoas que bronzeiam menos podem ficar mais tempo, mas é suficiente. Então assim, não é pra torrar no sol, né? Então assim, essas são medidas importantes que a gente pode seguir para prevenir ter câncer de pele. 


M: Entendi. Então, é para tomar sol. Tomar sol é bom, porém tem que ser uma quantidade pequena de... de sol, não pode exagerar. Isso, antes de ficar a pele vermelha.


A: Exato, vai variar muito de onde a pessoa mora, claro. Isso varia na incidência do sol, mas uma pequena quantidade é suficiente, então a gente não precisa ficar vermelho, ficar com marca, né? E principalmente quando as pessoas nunca vão pra praia, depois vai pra praia e vai de uma vez e queima e fica com aquela vermelhidão, sabe? Então fica queimado, vermelho, dolorido, às vezes formam até bolhas. Esse é o que dá o maior risco de estar associado ao melanoma. E o melanoma é aquele câncer que a gente falou que é letal. Então, essas queimaduras pontuais, elas são muito perigosas.


M: Entendi. Não é o tomar sol normal, pouquinho. É a queimadura que contribui para ficar mais perigoso a tomada de sol, entendi. Doutora, a sua formação toda é na área médica, né? Você pode contar para a gente como que surgiu o seu interesse pela tecnologia de inteligência artificial e como que a doutora se sente como médica dentro desse mundo da tecnologia?


A: Eu me formei totalmente na área médica e quando foi em 2011, eu acho… por aí. Já na dermatologia. Na residência, no hospital, eu lembro bem que eu ganhei um celular lá, enfim, tava com um celular novo lá. E eu adorava tirar foto. Aí eu falo, nossa, eu sempre gostei muito de foto, né? Sempre tive pequenas câmeras lá digitais, então eu gostava bastante de tirar foto. Veio uma professora minha que falou, nossa, por que você não faz um trabalho com teledermatologia, foto que você gosta, tecnologia? Falei, é verdade, então eu vou fazer isso. E aí o meu TCC na conclusão lá do curso foi em teledermatologia lá no Hospital das Clínicas. Então, o que a gente fez? A gente tinha que avaliar os pacientes no hospital inteiro, no complexo inteiro. Então, lá no Instituto do Câncer, no ICESP, no IOT, Instituto de Ortopedia, no Instituto de Psiquiatria, naquele complexo gigante. Quando os pacientes tinham alguma lesão dermatológica e estavam internados, eles pediam interconsulta da Dermato. E a gente ia lá avaliar. Então, o que a gente fez? A gente ia lá, tirava foto desses pacientes e aí mandava pra um professor avaliar e depois comparava com a avaliação presencial pra ver se dava compatível. Porque a minha hipótese era, eu acho que a distância a gente vai conseguir resolver muitos casos só tirando foto e mandando umas informações pro médico a distância. A gente não precisava ficar indo toda hora presencial lá. E o resultado foi incrível porque em oitenta por cento dos casos a gente conseguiu acertar só com uma foto e informação. E foi antes da pandemia, né? Que depois popularizou muito a teledermatologia, a telemedicina em si. E aí a gente... Essa foi a minha primeira iniciativa que eu vi que teria um grande potencial. Logo em seguida, depois de formada, eu fui trabalhar no Einstein com a telemedicina, depois comecei a trabalhar com uma área de inteligência artificial. Eles falaram “ah, você gosta de pensar em coisas diferentes, vem para cá para a gente pensar em inteligência artificial”, que é um PROAD, que é um projeto junto com o Ministério da Saúde. E a proposta era essa, né? Vamos fazer uma inteligência artificial para ajudar a detectar mais precoce alguns tipos de câncer de pele, para que os generalistas, né? Porque às vezes tem lugar no interior, sei lá, do Nordeste, por exemplo, tem paciente que tem que se deslocar trezentos quilômetros para passar no dermatologista. E ele vai se deslocar trezentos quilômetros, vai chegar lá pra fazer uma avaliação, às vezes que não é nada ou às vezes ele vai chegar lá pra fazer uma avaliação, às vezes tem que agendar outro dia pra fazer uma cirurgia. Então, assim, é muito complexo e a gente pode reduzir isso, né? Priorizar quem precisa mais, tirar da fila quem não precisa, já ir numa viagem única pra fazer já um procedimento direto. Então foi nisso que eu comecei a trabalhar, e aí eu adorei porque eu comecei a trabalhar com grupos multidisciplinares, engenheiros, biomédicos, foi muito legal, né? Muito legal, então ver outras áreas, pensar no service design, né? Como que eu vou entregar isso na mão do médico ou na mão do paciente? Como vai ser o uso da própria ferramenta, a usabilidade… e aí eu adorei. Paralela a isso, eu virei professora numa universidade, da minha cidade natal, que é a Universidade de Mogi das Cruzes, lá na Policlínica onde fica a dermatologia. E lá que eu comecei a cuidar, ensinar de outros, cuidar dos pacientes e ensinar outros médicos. E aí eu identifiquei também esse potencial de usar ferramentas de tecnologia pra que os médicos conseguissem aprender e fazer uma melhor prática na sua rotina. E assim vai, né? Então sempre as pessoas vão tendo ideias, a gente vai olhando, vai detectando oportunidades. Tudo que é processo repetitivo, a gente pode automatizar com tecnologia ou com inteligência artificial mesmo então tem muita possibilidade, a área médica ainda é muito analógica, tem muita coisa ainda no papel, né? Você fala “nossa, tem muito papel que tem que preencher, tem muita coisa que é fragmentada”. Então todas as horas que eu vejo essas oportunidades, eu falo “nossa, dá para ajudar, tem muita gente boa pensando em melhorar”. Então é legal, é legal ver, assim… pessoas boas pensando na melhoria do sistema como um todo, e aí na minha área eu estou sempre pensando nisso também para ajudar o paciente e o médico.


M: Que legal, doutora! Que joia! então a entrada foi por câmera, hein. Câmera de celular, entrou a primeira foto da sua vida, e depois a teleconsulta e por último, o pedido de edição. Que legal!


A: Foi!


M: A doutora é diretora da Kintsu, né? Que é uma empresa de tecnologia na área de saúde. Doutora, pode nos explicar o que a Kintsu faz, ou se ela já está trabalhando, ou se ela ainda está sendo construída? Como é que é a Kintsu? 


A: Perfeito. A Kintsu foi fundada em 2021, então já tem um bom tempo, e foi a continuidade dessa história toda. Quando eu tava lá em Mogi, ainda, né? Ajudo lá, no dia a dia com esses pacientes de doenças graves, Eu fiquei responsável por um ambulatório de doenças imunomediadas, então são pacientes mais graves que têm psoríase e dermatiatópica, e, assim, acometimento do corpo inteiro. Às vezes falta no trabalho, com depressão, tem paciente que desiste de fazer faculdade por causa de uma doença muito extensa, sofrem preconceito… eu tinha uma paciente que fazia 8 anos, nunca fui à praia, teve um filho, e ela nunca levou o filho pra praia que é do lado, lá da cidade por causa das lesões que ela falou, não tenho coragem de me expor. E quando eu comecei a tratar esses pacientes com medicamentos mais avançados, é... eu me apaixonei, porque o paciente voltava e falava, “nossa, você mudou a minha vida, que maravilha! Eu voltei a trabalhar, eu tô feliz, eu tenho mais dinheiro, eu tô conseguindo fazer tudo que eu queria, eu tenho relação” então muda a vida da pessoa. E aí eu percebi que tinha, mas apesar de ser bom, tinha muita dificuldade de conseguir acesso a essa terapia, porque acesso é, você tem que fazer papel, tem que fazer um monte de processo, tem que escrever um monte de coisa, para você mandar para o SUS ou mesmo para o convênio para conseguir esse tipo de terapia, porque são terapias mais caras. Mas mesmo para o paciente que precisa, é tão difícil, ele está sofrendo tanto que às vezes ele desiste no meio do caminho e eles não são tratados. A gente tem muitos pacientes que estão subtratados, com tratamento que fica passando só pomada, e não só isso, não só na área da dermatologia, mas em outras doenças também. E aí que surgiu a ideia, eu falei, não, a gente tem que automatizar esse processo. Vamos ajudar o médico a preencher esses papéis. Então, a gente é simples, a gente sabe onde que tem que preencher. Vamos ajudar ele aqui a avaliar melhor o paciente. Então, eu ensinava os médicos como avaliar. Falava “ó, você precisa perguntar isso, isso, isso, isso, isso, isso”. Só que é muita informação. Então, essas informações eu coloquei dentro de um sistema, que é o Bioplaner. Falei “usa aqui que vocês não vão esquecer de perguntar nenhuma coisa para o seu paciente”. E aí o meu sistema indica qual que é o tratamento ideal para aquele paciente considerando a idade, o peso do paciente, a gravidade, etc., o perfil do paciente. E quando ele escolhe o medicamento, o sistema já preenche todos os documentos para o paciente levar, que seja na farmácia, de alto custo ou para o convênio, e aí não tem erro. E aí acelera para ele chegar e não desistir, para ele chegar até esse medicamento. Então, é isso que a gente faz na Kintsu. Começamos na dermatologia e aí evoluímos já pra outras áreas. Então, pra reumatologia, pra pneumologia. Hoje também tem outras doenças também de pacientes que não conseguem esses tratamentos. Então, a gente ajuda o médico a levar o paciente até esse ponto de bom tratamento. E... E hoje estamos na gastro também, com doença inflamatória intestinal. Então, hoje a gente tem trabalhado com todas essas doenças que são complexas e que precisam de um tratamento mais cuidadoso, mais detalhado e que tem essa dificuldade de conseguir o tratamento certo. Então, a Kintsu já tá operacional, tá funcionando normal, já tem clientes, tudo.


M: E quem que é o cliente da Kintsu, então? É o médico?


A:  Hoje, atualmente, as indústrias farmacêuticas são os clientes da Kinz, que conseguem apoiar o desenvolvimento dessa ferramenta de educação. Porque, no final das contas, a gente está educando ali, ensinando, né? Colocando uma facilidade, é quase um serviço para o médico para que ele possa avaliar mais facilmente o seu paciente, elevar o seu nível de qualidade no atendimento e diminuir a carga do médico que é muito burocrática. Então, diminuir o tempo dele porque tinha médico que ficava trinta minutos depois da consulta, no final do dia, para fazer esses papéis. Então, imagina, depois que acabou todas as consultas, fica trinta minutos depois só para preencher papel. E é isso que a gente não precisa porque agora a gente consegue fazer durante a própria consulta. Então, hoje a indústria farmacêutica, ela apoia o meu projeto para entregar de graça para os médicos. E é assim, eu não preciso cobrar dos médicos. Então, sem conflito de interesse. E aí a indústria farmacêutica, a primeira coisa que eu falei foi sempre “eu não posso ter conflito de indicar um tratamento só”. Tem que ser bom para o médico e para o paciente. Vou colocar todos os tratamentos que podem ser bons, não só o seu, o dos outros também. E isso está muito alinhado com o que eles pretendem, né? De ajudar o médico, o paciente. Então, é dessa forma que a gente consegue trabalhar hoje.


M: Que interessante. Então, é grátis. Qualquer médico que está nos assistindo agora ou que vai ver a live depois, né? Que a gente tem muita gente que assiste depois. O nosso melhor horário quando a gente faz live é à noite. Mas é ruim pra gente que faz, né? Então, a gente faz a live num horário que pouca gente acaba assistindo, mas depois, quando a gente publica a live, mais gente assiste, né? Então, o pessoal que assiste depois, os médicos, então, que nos assistirem, eles podem usar a ferramenta da Kintsu que já está disponível gratuitamente. 


A: Podem, exatamente. Então, é possível eles entrarem, se cadastrarem e usar gratuitamente a ferramenta Todos os médicos que estiverem em situação regular no CFM, hoje a gente faz um check direto numa base do CFM para ver se o médico está em situação regular. Se ele estiver em situação regular, ele já consegue aprovar e se cadastrar e usar gratuitamente. CFM ou CRM? Não era CRM? CFM é o que? O CFM é o Conselho Federal de Medicina. Ah, que legal. Porque o CRM é o regional, é. Ah, que legal. Então, espetáculo, doutora. Aí eu coloquei aqui, pessoal, o link do Instagram da Kintsu. E aí, se vocês se interessarem, entrem lá, se cadastrem gratuitamente, testem a ferramenta da doutora Aline, né? Que é uma coisa que é feita para ajudar. Ou até você que é paciente e o teu médico não usa ainda a ferramenta da Kintsu, pode indicar para ele também, porque de repente pode ajudá-lo, né? nessa questão tanto de conhecimento quanto na questão burocrática, para que você possa ter acesso ao tratamento que você precisa para melhorar rápido. Muito legal. E hoje a gente tem uma base de médicos muito específicos também, então eu vejo que os pacientes ficam pingando de médico em médico, médico em médico, médico em médico, nunca sabem... porque cada um tem uma especialidade. Na minha área, por exemplo, tem médico que é muito bom de tratamentos estéticos, mas tem outro que é muito bom de cabelo e tem outro que é muito bom de doença e de doenças específicas. Então hoje ali a gente tem uma segmentação também de médicos interessados em cada doença, eles se posicionam de cada doença e a gente consegue ajudar esses pacientes a escolherem o médico certo. se eles, às vezes, tem muitos, muitos, milhares de pacientes que entram em contato ali no Instagram e falam, ah, queria uma ajuda pra encontrar um médico, e a gente tem uma equipe super treinada aqui que fala, olha, como que é a sua doença, tal, vou te ajudar, escolhe um por um pra ajudar esse paciente a chegar no médico certo.


M: Que legal! Que legal! Ah, então, por esse perfil do Instagram, vocês ajudam tanto o médico quanto o paciente a encontrar o médico que ele precisa. Que legal! Que legal! E como que vocês fazem na Kintsu para que a comunidade médica e as pessoas em geral conheçam as soluções que vocês oferecem, doutora? 


A: Perfeito. A gente tem dois caminhos, né? Então, a própria indústria, ela divulga bastante também a ferramenta, né? Como ela apoia e ela quer que o médico faça esse atendimento de excelência, que ele tenha menos desgaste: a indústria apresenta também para esses médicos, cadastra e convida esses médicos. E nós também temos toda a nossa participação na comunidade médica, nas sociedades médicas e com médicos referência. Então nós temos alguns parceiros aqui, então de outras áreas, da reumato, da pneumo, da gastro, que fazem também a divulgação para os seus colegas através dessas publicações, das próprias mídias digitais, convidando os médicos para entrarem nas ferramentas. E hoje, nesse momento que a gente está daqui, a gente está realmente selando algumas parcerias que em breve a gente vai comunicar. para poder ampliar o conhecimento da ferramenta. E já chegou... alguns médicos chegaram falando “nossa, mas por que nunca ninguém me falou?” Então, está faltando a gente divulgar um pouco aqui também. Então, eu vejo que tem médico que ainda... muitos ainda não conhecem. Nós estamos, apesar de estar há três anos... as coisas sempre vão evoluindo. Então hoje é esse momento que a gente tá de vamos divulgar mais, vamos chegar a ter mais médicos, porque tem muita gente que não tá podendo usar porque não conhece. Então essa ajuda que vocês estão fazendo agora, por exemplo, comunicar com o paciente, comunicar com médicos através da live, é uma das formas que a gente tem de ampliar acesso a essa ferramenta pra mais médicos.


M: Que legal, doutora! Que bom, espero que a gente realmente contribua. Vamos fazer o nosso melhor aqui também pra ajudar vocês nisso! Aqui no Telix, a gente está montando uma plataforma para consulta de pesquisa na área de saúde, né? A ideia é apresentar o resultado das pesquisas de uma maneira que qualquer um que não é da área de saúde consiga entender. Por que? O que acontece? Às vezes a gente vê uma live ou vê no noticiário alguma notícia sobre alguma doença e aí naquele momento a gente não está precisando daquilo. E aí um tempo depois a gente precisa e às vezes a gente nem consegue achar, né? O que era, né? O que era aquilo que a gente tinha visto ou às vezes a gente realmente não viu a notícia sobre aquele tema que era bom. Então, no TELIX, a gente está tentando fazer essa plataforma. E um dos dados que aparece, geralmente, nessas pesquisas médicas, é a adesão aos tratamentos. Aí, vou explicar para quem está nos assistindo o que é a adesão. Adesão é a porcentagem das pessoas que realmente segue os tratamentos que os médicos indicam. Então, por exemplo, se o médico mandou você passar três vezes por dia a pomada, por dez dias, a quantidade de pessoas que consegue seguir realmente essa indicação por completo é a adesão. Não sei se eu expliquei certo, doutora.


A: Perfeito, tá certo. A adesão ao tratamento é um fato super importante, porque, assim, às vezes a gente usa um pouco, depois para, né? Aí usa mais tratamento, aí depois não teve consulta, não teve receita. Isso é um dos problemas que a gente tem hoje na área da saúde, que é a adesão ao tratamento. Como é que a gente olha pra isso, né? Como é que a gente faz pra saber se os pacientes estão usando um medicamento ou não adequadamente, regularmente? E vocês aqui, se vocês medem a adesão dos pacientes aos tratamentos que são recomendados pelos médicos que utilizam o método de vocês ou não medem? Perfeito. Esse é um próximo passo. A gente está muito empenhado nisso. Provavelmente a gente tem um mapeamento para começo do ano a gente lançar essa página do paciente. Então, hoje a gente está trabalhando muito do lado do médico, como que ele faz a avaliação, ele tem ali o controle de quando que ele tratou um paciente, qual que foi o tratamento proposto e a continuidade desse tratamento. E o próximo passo que a gente está estruturando, fazendo muitas conversas e entrevistas com os pacientes e com os médicos também, para que os médicos deem acesso a uma área do paciente para determinadas informações, para ele acompanhar os resultados do que ele está tendo daquele tratamento e para que ele possa informar também se ele fez o tratamento, se ele está dando continuidade. No nosso caso, que os tratamentos são muito... de alto custo, né? Às vezes são injetáveis, ou mesmo medicamentos orais, a gente sabe que o paciente não usou porque são algumas vezes que ele, são vezes pontuais que ele usou, e quando ele não usa, ele piora demais. Então a gente consegue fazer essa monitoria, um pouco mais superficial ainda, e é um ponto que a gente quer sim se aprofundar, então vamos conversar mais com a Telix também, pra gente pensar... Como que a gente pode olhar com mais acurácia para esse resultado de adesão dos pacientes? Então, a gente precisa saber se esse paciente tomou o medicamento todos os dias, quantas vezes ele pulou desse tratamento porque isso impacta no resultado final desse tratamento. Então, queremos sim trabalhar nesse ponto de olhar para o paciente, como que ele está usando o medicamento. Mas o nosso primeiro passo, por enquanto, é trabalhar na correlação do médico com o paciente, para eles olharem juntos para esses resultados que a gente tem hoje dos tratamentos. 


M: Entendi, doutora. Espetáculo. No caso, quando um laboratório lança um medicamento, ele geralmente, no resultado, ele é obrigado a medir a adesão dos pacientes ao tratamento, e ele costuma publicar isso na mula, como resultado da pesquisa deles. Como é que vocês, como médicos, você como dermatologista e a Kintsu, que monta essas árvores decisórias para os médicos, como é que vocês levam em esses dados de adesão que as pesquisas trazem, né? Que o resultado dos fabricantes trazem. Vocês levam ele em conta na hora de decidir sobre a prescrição do tratamento ou não? Ou não levam? Como é que…


A: É, e tem duas coisas. Tem uma questão de eficácia do tratamento. Então, geralmente nos estudos pivotais, estudos clínicos pivotais, que a gente chama. A indústria faz um estudo muito grande, é muito caro fazer esses estudos para ver a eficácia do tratamento. Então, a gente vai falar assim “olha, setenta por cento dos pacientes tiveram melhora com o tratamento”. Maravilha. E em quantas semanas? Em dezesseis semanas eles melhoraram. Então, em quatro meses o paciente melhorou Setenta por cento. Ótimo. Então, o outro tratamento, eles publicam lá e sai isso na bula, né? E tem vários estudos também, não é só um, por isso que é difícil às vezes de avaliar porque tem muitos. E um dos estudos teve noventa por cento de melhora em três meses. Então, olha só, isso aí foi uma melhora... acima e em menos tempo. Então, isso a gente usa pra comparar resultados de eficácia. Mas pode ser que naquele tratamento que teve melhora de noventa por cento em três meses, teve trinta por cento dos pacientes que tiveram o efeito adverso grave. Então, será que vale a pena? Mas os pacientes que tiveram efeito de adverso grave foram os pacientes que tinham mais de cem quilos. Ah, então, se for menos de cem quilos, não vai ter. Então, a gente leva tudo isso, sim, em consideração. Mas é difícil. Então, veja que é muita informação. E isso não é um estudo. Isso tem, tipo, milhares de estudos de milhares de medicamentos. Então, pra combinar todas essas informações na nossa cabeça médica e todo dia estar fazendo um upload aqui de todas essas informações, é difícil. Por isso que a gente trouxe ele na Kintsu: “Médico, fica tranquilo. Eu vou atualizar tudo aqui como é que você precisa pensar. Você só fala com o paciente, dá atenção pra ele e eu vou te falar o que vai ser melhor pro paciente que tem mais de cem quilos, pro paciente que tem uma outra doença, pro paciente que tem uma contraindicação a um determinado tratamento”. Essa parte a gente mantém atualizada. Então, a gente leva em consideração a questão da eficácia do tratamento e em relação à adesão mesmo de usar o medicamento em si regularmente. Então, será que esse paciente está aderindo ao tratamento? Porque quanto mais, por exemplo, for medicamento injetável, às vezes o paciente não quer ficar lá indo toda hora fazer a aplicação. Mas quando é oral também, ele esquece mais, né? Então é mais fácil de esquecer, porque se você aplicar um medicamento a cada dois meses, mas é diferente de você tomar todo dia. Tomar você esquece mais. Então essas informações são importantes também pra minha escolha do tratamento para o paciente. Então um paciente, por exemplo, eu tenho paciente às vezes, né? Que... enfim, tem mais ansiedade, ou um etilista, por exemplo, então tem muitas vezes que ele… eu não tô muito confiante de que ele vai tomar o remédio todo dia, tem dia que ele vai esquecer, tem dia que ele não vai querer, tem dia que vai acontecer várias coisas, mas eu prefiro dar uma injeção a cada dois, três meses. Enfim, o que for, porque eu sei que ele tomou, eu sei que ele vai e tomou. Agora, existem outros pacientes que falam assim: “eu viajo muito, e aí os meus horários são muito loucos, e eu tenho que sair”. Então talvez seja melhor um comprimido que ele vai usar e vai poder ter uma aderência maior a esse tratamento. Mas é bastante difícil de controlar isso, se o paciente está tomando medicamento ou não. Então eu vejo algumas iniciativas com tecnologia também de colocar um detector na tampinha do negócio para ver se ele abriu ou não o potinho e saber se ele tomou. É uma das formas da gente olhar a adesão ao tratamento.


M: Legal, doutora. Que joia! Agora eu vou fazer uma pergunta aí pra vocês que estão nos assistindo: você seguiu cem por cento da última recomendação de tratamento que o seu médico te passou? Escreve aqui pra gente. Por exemplo, né? Se o médico mandou tomar as injeções, você foi tomar? E conta mesmo que você esteja assistindo a live depois, esse dado é interessante pra gente. Se você puder colocar nos comentários, se você aderiu ao último tratamento que você teve, vai ser legal para a gente saber. E é difícil, porque às vezes você fala na consulta, a gente está falando, é o tratamento, mas você fala assim: “também tem que tomar uma vacina, também tem que fazer dieta, também tem que fazer atividade física”, é difícil de aderir a tudo. Eu estou falando por mim, porque eu falo, às vezes a gente esquece, não dá para fazer todos, e mesmo só o medicamento para entrar numa rotina, já é difícil da gente lembrar. Eu mesma pulo vários dias do tratamento, às vezes esqueço. Eu tenho uma filhinha, né? Aí eu marco no meu celular. Eu ponho um alarme que toca nos horários. E eu realmente preciso do alarme, eu percebo que se eu não tivesse aquele alarme, ia ter passado batido o tratamento. É chato mesmo. Doutora, tem muitas inovações e pesquisas na área de dermatologia aqui no Brasil?


A: Tem muito. Tem bastante coisa de pesquisa em inovação e em várias áreas, né? Então é o que a gente estava falando, na triagem, no diagnóstico, na própria indicação do tratamento, no serviço em si, no fluxo, né? Então, a otimizar esse fluxo, regulatório. Agora, de desenvolvimento de novos medicamentos em si, é um pouco mais raro. Então, geralmente é mais Estados Unidos e Europa, os estudos desses medicamentos, eles ficam muito mais fora do que aqui, tanto que várias vezes a gente tenta se candidatar para participar desses estudos. Assim como referência, os professores de serviços, universidades, costumam participar muito desses estudos, querem participar, a gente pede para participar, mas geralmente as indústrias fazem muito mais esses estudos fora do Brasil do que aqui. A gente está vendo chegar algumas coisas, até porque às vezes a população brasileira não é igual a uma população europeia, então será que o medicamento vai funcionar igual na nossa população brasileira do que funcionaria no europeu? Não sei. A gente é diferente. Então, é importante a gente ter estudos que sejam feitos aqui também. A gente quer saber: o brasileiro vai ficar bem? Vai ter um efeito adverso diferente? Mas a maioria dos estudos de pesquisas clínicas são feitas nos Estados Unidos e na Europa. Tem pouquíssima coisa que vem para cá.


M: Entendi, doutora. A doutora pode compartilhar, a doutora que está atualizada com essas últimas novidades, a doutora pode compartilhar com a gente quais foram as últimas pesquisas ou inovações que tiveram mais impacto na área da dermatologia? 


A: Existem vários medicamentos novos, inovadores que chegaram no mercado. Então, uma das coisas muito interessantes é para alopecia areata, por exemplo. Então, né? Alopecia areata é aquela doença que deixa a pessoa sem cabelo, né? Então, tem muita gente que tem, às vezes, um buraco. Ah, meu Deus, caiu, fica um buraco lisinho, careca, assim, lisinho do cabelo e é horrível, né? Porque é desesperador. E tem gente, às vezes, que tem grave. Cai metade, cai tudo. Tem gente que cai sobrancelha, cai os cílios, cai o pelo do corpo inteiro. Então... E às vezes são pessoas jovens, assim, né? Então, às vezes tem criança, né? Mulher, né? Fica sem cabelo, é difícil. Então, pra alopeciariata, a gente não tinha tratamentos muito efetivos. Eram coisas mais, tipo... de corticoide, aí às vezes injeção, que dói pra caramba e tal, e agora nós temos um medicamento novo, um inibidor de jac, que funciona pra esse tratamento, então isso é muito legal. Na dermatite atópica também. Então dermatite também é uma doença que, cara, você vê, tipo assim, muitos pacientes, é muito comum. Então, dez por cento, praticamente, da população tem, e eles ficam grave. Tem criança que interna, que Eu tenho criança que chorava demais, não conseguia dormir a noite inteira, não conseguia tirar a meia porque ficava tudo grudado, a meia com crosta. Chegava no consultório e falava, não quero tirar porque arrancava e arrancava as cascas e doía, cheia de curativo. Eu tenho uma mãe que mudou de apartamento por causa da... Você começa a querer achar qualquer causa: “acho que é o ácaro, acho que é a umidade do apartamento. Eu vou mudar de casa pra ver se melhora”. A doença, começou a fazer ela mesma creme hidratante pra ver se funcionava o que ela fosse criar em casa… uma loucura, assim, sabe? De ansiedade na família inteira, e hoje a gente tem tratamentos que, assim, é questão de pouquíssimo tempo, às vezes um mês, o paciente já tá zerado de uma doença que ele tava sofrendo há oito anos. Então, é transformador, assim, quando você vê um tratamento desse na prática. E não é só pro paciente, é pra família dele, esse paciente vai voltar a estudar esse paciente vai poder se relacionar, ter amigos, vai poder ir pra casa dos amigos. Então, muda demais. Esses tratamentos inovadores, eles realmente têm impactado muito a vida dos pacientes, assim como na oncologia, né? A gente tinha câncer que você falava, câncer avançado já era. Não, agora a gente vê paciente que fala “nossa, eu tive um melanoma metastático e estou curado”. Caramba, né? É incrível você poder ver esse tipo de evolução.


M: Nossa, que legal, né? Que bom saber que a área da medicina é uma área que está realmente avançando. Muito legal. Como é que um paciente que não é da área de saúde, por exemplo, que talvez esteja sendo submedicado, não saiba desses medicamentos, como é que ele pode se informar sobre essas pesquisas e inovações?


A: Ótima pergunta. É difícil, né? Porque a gente tem muita coisa. Então, eu tenho uns canais que são bem bacanas para cada área. Por exemplo, na área da dermatologia, o site da Sociedade Brasileira de Dermatologia, eles trazem bastante informações. A gente, aqui no Instagram, a gente está sempre comentando sobre essas inovações que estão chegando. O que que tem de possibilidade, existe um grupo que é a Psoríase Brasil, eles começaram com Psoríase, mas já evoluíram para outras doenças dermatológicas. Então porque a gente tem muita coisa chegando, então lá eles informam sempre, falando quais as coisas novas que tem, que estão chegando para os pacientes, e alguns influencers. Eu vejo pessoas muito, isso ajuda demais, então, na [inaudível] Purativa, por exemplo, a Jessica Tawane, a Mavi Barrada, são dois perfis do Instagram que são muito ativas aí pra falar da hidradenite, são duas pacientes de hidradenite que sofreram muito tempo e elas compraram essa causa e estão falando pra todo mundo e muita gente está sendo diagnosticado através do perfil delas, então esses influencers. Eu também tenho o meu TikTok também e também eu falo bastante de várias doenças. Tem vários pacientes que falam “nossa, descobri no TikTok, descobri que eu tenho a doença no TikTok porque ninguém nunca tinha diagnosticado”. Tem uma paciente de Recife, ela falou “dez anos, e eu acho que eu tenho essa doença que você tá falando aí”. Pegou um avião, veio pra São Paulo, e eu falei “cara, você tem mesmo”. Ela se diagnosticou através de um impacto nas mídias sociais. Porque hoje a gente não tem realmente um lugar focado que vai falar ali. Então é isso, você passa de médico em médico, fica navegando, vendo informação na internet, aí de repente você bate com alguém e começa a perceber que talvez você tenha um diagnóstico e que talvez tenha possibilidades desse tratamento. Então acho que hoje ainda é muito segmentado, vejo dessa forma.


M: Legal, doutora. Pessoal, é... Quem ainda não fez pergunta para a doutora Aline: a gente está quase terminando a live, dá tempo de fazer ainda. Doutora, qual é a sua visão para o futuro da dermatologia?


A: Tem muita coisa acontecendo de inovação no mundo e na medicina. Eu sou uma pessoa super otimista, então eu sempre acho que a gente.. eu vejo pessoas tão boas fazendo tantas coisas, pensando em coisas melhores para os pacientes, melhores para os médicos, que eu vejo os dois lados. Pacientes sendo mais diagnosticados precocemente, tendo um certo grau de independência do médico, não é tudo, não tem, tudo que precisa passar no médico. Então, não que os médicos não vão ser necessários, mas que os pacientes vão poder ter mais autonomia para saber para onde ele precisa ir, saber o momento certo, saber ser um pouco mais independente de certas coisas menores. para que a gente possa estar focado nos casos que mais precisam. Porque ainda tem pouco dermatologista para a quantidade de pacientes que a gente tem. Então, por exemplo, no Brasil, só nove por cento dos municípios tem um dermatologista. É muito pouco. Então, muita gente tem que se deslocar para ir numa cidade central que é um dermatologista. Eles estão muito concentrados, sim, em algumas cidades. Então, em São Paulo, a gente tem muito, mas tem vários lugares que não tem. Então, a teledermatologia permite que a gente chegue em mais pacientes à distância. Então, isso é uma coisa que já está acontecendo muito por causa da pandemia e cada vez vai acontecer mais. A inteligência artificial vai permitir que os pacientes consigam ter mais autonomia de decidir pra onde que ele tem que ir, no momento que ele tem que ir, e trazer informação mais certeira pro médico também porque às vezes a gente pergunta alguma coisa e o paciente tá todo confuso lá. Se ele tiver mais conhecimento, ele traz informação mais acurada pra gente, né? Falando “olha, eu acho que eu não apliquei o medicamento três semanas depois a trazer e atrapalhou”. Pronto, já me ajuda, né? Pra gente não precisar ficar decifrando tantos enigmas e a gente poder pensar em coisas mais à frente. E pro médico, tá tendo, eu vejo assim, tem muita informação. A inovação é ótima, mas tem muita informação. Os médicos estão cansados, então algumas pesquisas mostram que quarenta por cento dos médicos estão com problemas de ansiedade, de depressão. Muita gente não quer mais fazer residência, não quer mais trabalhar dentro de um hospital porque o burden é enorme. A gente está super sendo massacrado por muita informação, muita inovação, pacientes com mais conhecimento que cada vez chegam para a gente exigindo mais coisas também. Então, como é que a gente se mantém atualizado nesse mundo de ansiedade? E um sistema também cobrando que a gente trabalhe mais ganhando menos em menos tempo e sendo mais efetivo. Então, esse outro lado, está difícil para o médico, e aí que entra muito a tecnologia. Eu acredito nisso, que a tecnologia vai ajudar os médicos terem um menor burden durante o seu atendimento pra que ele sempre se mantenha atualizado, mas sem tanta burocracia. Tem coisa que tem que otimizar, senão os médicos não vão aguentar e não vão querer mais ser médicos porque tá ficando difícil. Então assim, vamos tirar tanta papelada, vamos tirar tanto trabalho, vamos ajudar o médico a tomar melhores decisões pra que ele não fique com toda responsabilidade sozinho de ter que ficar tudo na cabeça dele. Não, tem tecnologia pra isso pra ajudar a gente a fazer melhores escolhas pra ajudar a cuidar do paciente, pra que os dois lados saiam ganhando. 


M: Nossa, que legal, doutora! A sua visão tá completamente alinhada com a nossa. Assim, a gente acredita bem nisso mesmo. Que recomendações de saúde a doutora daria pras pessoas que estão nos assistindo? A doutora já falou um pouquinho aqui do sol, que outras recomendações de saúde a doutora daria pra quem tá nos assistindo?


A: Ótimo. Hoje, a gente tem que pensar mais em saúde e não em doença, né? Por muito tempo a gente fica “ai, doença, tô doente, eu vou fazer alguma coisa”: muito reativo em relação a tratar doença, mas a gente tem que pensar em ter saúde. E o que é ter saúde? É fazer atividade física, é evitar ansiedade, né? Claro que é super difícil evitar a ansiedade, mas a gente tem que procurar pensar nisso. Ter um tempo pra falar “eu preciso ter menos ansiedade: o que eu posso fazer em referência a isso? Então, cuidar da saúde é prevenir: é passar protetor solar, é fazer o check-up todo ano, passar com o dermatologista, fazer um check-up das pintas para ver se está tudo bem, é, na dúvida, se informar… Então olhar informação de pessoas que sabem o que estão falando. E com o negócio da tecnologia também é confuso porque tem tanta informação, tanto, né... gente falando muitas coisas, inteligência artificial, que a gente tem que começar a pensar o que é verdade ou não. Então, procurar referências de sociedade, pessoas que têm uma boa formação. Então, a gente começar a ter uma crítica em relação à informação que a gente consome também porque só ficar seguindo uma pessoa que tem milhares de seguidores, às vezes, não está certo. Às vezes, a pessoa é muito boa de marketing, mas não é boa cientificamente. Então, a gente tem que ter muita crítica, cada vez mais, por causa desse boom que a gente está agora de informações na mídia. Então, ser crítico, saber onde você procura a informação e procurar pessoas confiáveis para tirar a dúvida. Às vezes, mais de uma pessoa a gente vai precisar, a partir de agora, para olhar e se cuidar. Então, medidas gerais são muito importantes. Então, cuidar da saúde, prevenir e procurar um médico precocemente que tenha uma boa referência.


M: Espetáculo, doutora! Obrigada! Nós recebemos aqui, então, algumas perguntas, recebemos aqui alguns comentários, ó. Um aqui comentou com a gente que ele nunca teve problemas de pele, mas que algumas pessoas na família dele tiraram manchas que poderiam virar câncer de pele. Teve uma pessoa aqui que não seguiu 100% das recomendações do médico, outro que falou que sempre segue, que dá sorte, mas aí agora as perguntas aqui. Uma pergunta: a popularidade do skincare está trazendo mais benefícios ou malefícios, considerando o seu uso indiscriminado?


A: Pergunta interessante porque falei recentemente com uma colega que ela foi até trabalhando na Shiseido, em grandes marcas, na Sephora, e ela falou: “nossa, eu comecei com... três passos de skincare, fui pra cinco, fui pra sete, fui pra dez, cheguei em treze passos de skincare”. Falei: meu Deus, você ficou o dia inteiro passando coisa no rosto. Então, a gente tá tendo, né? Esse boom de, cara, quantas coisas que a gente tem que fazer, o quanto que a gente vai ter o desgaste, será que a gente não deveria pensar em mais, em minimizar isso pra trazer um conforto? Porque a gente tem um boom de consumo, né? De falar “olha, agora é esse”, aí depois o mesmo que você tava comprando, você fala: “não, isso aí já não funciona mais, tem que ser outro, e agora tem que ser outro, e agora tem que ser outro melhor”. E aí você vai aplicando milhares de coisas, né? Pra conseguir uma pele, né? Saudável, jovial, enfim, é... eu vejo uma mudança de algumas linhas de pensamento de minimização. Então, será que um produto não conseguiria ele sozinho já hidratar e já fazer um efeito anti-idade? Então, tem algumas linhas que estão pensando muito nesse sentido, e vou até indicar dessa colega, que é uma linha nova, chama We.all. Não tenho nenhum conflito de interesse para indicar aqui, mas eu comecei a usar e falei: cara, é muito mais prático porque eu aplico um negócio e pronto. Então, a gente fazer esses múltiplos steps... torna a nossa vida um pouco mais complicada, né? Então, enfim, tem várias linhas de raciocínio, eu acho que tem alguns dermatologistas que concordam em mais linhas, em menos linhas, e a gente tem que ver, na verdade, o que o paciente se adapta. Tem gente que tem tempo e gosta, né? De fazer ali uma esfoliação, fazer todos os passos e tal, e tudo bem: a gente pode fazer. Mas tem gente que também quer coisa mais simples, que é o meu caso, então isso pode funcionar também. 


M: Legal. Doutora, tem uma outra pergunta aqui. É... A minha pele é muito oleosa, qual é o melhor tipo de protetor solar?


A: Os que são tipo seco, com certeza. A gente tem muitos tipos, muitas marcas de protetores solares, né? E o importante é você ver ali. Os que são Oil Control, então esses que têm o controle de oleosidade. Eu gosto bastante, por exemplo, dos protetores da La Roche-Posay. Eu gosto do Minesol Oil Control, também acho muito bom o protetor de ulcermin também, de toque seco, eu gosto bastante. Você tem que experimentar, e não tem problema, você experimenta um, na próxima você compra outro, que cada um vai se adaptar com um jeito, né? Então, tem gente que gosta de cobertura maior, com cor, né? Por exemplo. Então, o Minasol com cor, eu, por exemplo. Eu gosto bastante dele, eu acho que ele funciona bem pro meu caso. Tem alguns protetores que são mais fluidos, então, por exemplo, a linha da Adcos, eu gosto bastante também porque dá pra ir lá e experimentar. Então isso eu já acho que é uma coisa boa também, você vai lá na loja e experimenta qual a cor que você gosta, o que você sente melhor. Então os que são fluidos, você, tipo, joga, né? Um líquido fácil de passar, eu acho isso daí prático também. Então cada um tem que ver o seu jeito, mas tem alguns que são em bastão, por exemplo. Você passa, ele dá uma cobertura maior, mas dá um trabalhinho maior pra passar também, então depende do seu perfil, vale a pena experimentar.


M: Legal. Tem uma pergunta aqui: qual é o maior causador de câncer de pele? E aí, junto com essa pergunta: qual é a porcentagem do câncer de pele ser genético?


A: O sol é o maior associado a esse câncer, os cânceres de pele. Então, o câncer mais comum são os carcinomas, que não é o melanoma, que é aquele letal. Então, o melanoma é muito mais raro, mas ele é muito mais letal. O carcinoma, o carcinoma basocelular ou o espinocelular: esse é o câncer mais comum do mundo porque tem muito, uma pessoa às vezes entredez, entendeu? Então uma pessoa só pode ter vários, principalmente em áreas que são muito, tem muita exposição solar, pessoas que trabalham, né? Mais expostas, que tem a pele mais clara, então às vezes eles têm vários, mas esse, graças a Deus, não é o mais letal. Então, às vezes, só com uma cirurgia local, acabou e tá ok, né? Esses carcinomas. Então, esses são muito, muito comuns. E aí, o melanoma, ele já é bem mais raro, né? O melanoma tem, sim, uma associação de risco genético. Então, se você tem um parente que tem melanoma, você tem que tomar muito mais cuidado... em prevenção com o sol e fazer ali o check-up todo ano. Hoje em dia, a gente tem também um mapeamento fotográfico, então isso ajuda bastante, né? Que é fotografar ali as lesões e poder acompanhar ela com fotos porque às vezes só no olhar, a gente tá olhando e a gente não percebe que ela mudou ali, vinte por cento de uma lesão muito pequena, mas às vezes na comparação com esse tipo de tecnologia, a gente consegue detectar mudanças rápidas. E isso pode ajudar muito. Então, o que você tem que fazer é passar num dermatologista inicialmente, ele vai fazer uma análise das lesões e vai te indicar se você precisa ou não fazer o mapeamento fotográfico. E quem tiver oportunidade, vale sim, vale bastante a pena. 


M: Legal. Tem mais uma pergunta aqui, que é uma pergunta mais pessoal. Por que a senhora tem interesse em psoríase? E aí tem outra pergunta que é o que são imunobiológicos?


A: Perguntas difíceis essas. Eu, quando eu fui para, quis voltar para a área acadêmica logo que eu me formei, esse ambulatório especificamente a titular, né? Que digamos que é a pessoa responsável de todo o serviço lá, ela falou: “olha, o pessoal ali da psoríase tá precisando de um professor ali”, né? Que a gente chama de preceptor ali. E eu gostava lá na USP da psoríase, eu achava prático, eu achava muito, assim, resolutivo de: caramba, se dá um tratamento e o paciente muda completamente e se cura, que são esses tratamentos imunobiológicos que o pessoal chama de vacina, que é um medicamento injetável, né? Então, a maioria passa pomada, pomada, e esses tratamentos para os casos mais graves, que você faz uma injeção, ele é muito efetivo, muito seguro: muda a vida do paciente. Mas ele é muito caro também, então por isso que não dá pra ser pra todo mundo, só pra quem realmente tá mais grave. E aí, foi quando eu fiquei nesse ambulatório lá em Mogi. Aí eu amei, falei: cara, muito legal, acho que é uma doença que impacta demais a qualidade de vida do paciente, mas tem resolutividade. E tinha muita gente, milhares de pessoas precisando dessa ajuda e cada vez que eu vou ajudando mais, eu falo: nossa, toda vez que eu me impressiono quando o paciente volta mudado. E esses tratamentos imunobiológicos, eles fazem parte do arsenal terapêutico que existe para tratar não só a psoríase, mas essas outras doenças que eu falei também, como dermatiatópica, hidratenite. É uma classe de tratamentos que é uma injeção, e hoje a gente tem também os inibidores de JAK que são medicamentos orais que também são bastante efetivos para essas doenças mais graves, como eu falei, que também estão muito populares agora por causa da eficácia que ele dá. Diferente dos tratamentos tradicionais que a gente tem.


M: Legal, doutora! Que joia. Tem mais algumas perguntinhas aqui, mas a gente já terminou o tempo da live. Doutora, olha, muito obrigada! Foi fenomenal conversar com a senhora, abriu minha mente para muitas coisas. Assim, parabéns pelo trabalho aí na Kintsu, nesse ambulatório de psoríase, com esses estudos, muito, muito legal, viu? Foi uma honra, realmente. 


A: Obrigada a vocês, eu fico super feliz de poder trazer informação, principalmente para mais pacientes, mais médicos, e que vocês também possam ajudar muito mais pessoas, pacientes, médicos, a chegarem até esse tipo de informação, a chegarem até o controle das doenças. Então, eu fico feliz de colaborar. Sou uma entusiasta da saúde, da tecnologia e da inovação. Então, obrigada pelo convite! Fico à disposição. Quem quiser depois me mandar mensagem, tiver dúvida, pode me mandar lá no Instagram, eu sempre estou à disposição também para conversar! Obrigada! 


M: Esse aqui é o Instagram da doutora Aline, aqui embaixo, que está escrito na legenda, tá? Muito obrigada a vocês também que nos assistiram. Agora, durante a live, e os que vão assistir depois. É isso aí. Um abração! Bom dia a todos! Até mais! Bom dia, tchau! 


A: Tchau.

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