Transcrição da Entrevista com Dr. Alexandre Kawassaki para o Telix
Entrevistadora: Marina Ghisi (M)
Convidado: Dr. Alexandre Kawassaki (A)
M: Você tem só a sua falta de ar? Você se preocupa com algum parente ou amigo que tem problema pulmonar? Então essa live é pra você. Nosso convidado de hoje é o doutor Alexandre Kawasaki. Ele é médico, PhD em Pneumologia e é coordenador do curso de Pós-Graduação em Pneumologia do Hospital Albert Einstein, que é um dos melhores hospitais do Brasil. A gente vai conversar sobre inovações no tratamento de doenças respiratórias e também como o público leigo, ou seja, eu e você, podemos nos informar sobre esse assunto. Doutor Alexandre, como que esse interesse em doenças respiratórias raras surgiu na sua vida?
A: Bom, primeiro, bom dia a todos! Muito obrigado, Marina pelo convite! É um prazer! Faz tempo que eu não faço uma live no Instagram. Essa vida corrida, Faz isso com a gente, né? E essa vida termina sendo corrida muito por causa dessa pergunta que você acabou de me fazer “como é que doenças raras entraram na minha vida?” Isso remonta à época da faculdade. Na faculdade eu gostava muito de doenças estranhas. Inclusive, é um dos problemas, talvez, que existam na formação médica. A gente é formado a gostar de coisas estranhas. E eu sempre gostei, terminei focando muito da minha vida em aprofundar nesse tipo de problema, tanto por ser interessante, por sair um pouquinho do dia a dia, quanto porque eu notei que são pessoas que precisam muito de profissionais que se dedicam a isso, olhar pros raros, pros incomuns. E hoje em dia, eu me sinto muito realizado da forma como os pacientes terminam me vendo, como alguém que se preocupa não só com a doença, mas com o bem-estar deles e que estuda esses quadros mais incomuns e procura sempre fazer alguma coisa melhor para ele, que a gente consiga trazer um alívio a todo aquele sofrimento que ele tem. Então, não é só pelo interesse acadêmico, mas também porque eu acho importante ter pessoas que olhem para esses, que estão menos acostumados a um atendimento específico para seus problemas.
M: Nossa, que legal! Doutor, pode dar um exemplo pra gente do que seria uma doença respiratória rara? Só pra gente entender.
R: A gente tem, na verdade, vários tipos de doenças respiratórias raras. Não que eu trabalhe com todas, eu trabalho com um grupo específico. Esse grupo específico, ele é das doenças pulmonares intersticiais e que é muito mais comum ser falado em fibrose pulmonar. Esse termo fibrose pulmonar foi um pouco conhecido e falado na época da Covid, como sendo a sequela após Covid. Mas a fibrose já existe há muito tempo e é uma doença diferente da fibrose cística. Também é uma doença rara, é uma doença que acomete mais crianças, mas pode ter em adultos também, é uma doença genética. E eu trabalho com a fibrose pulmonar, que é essa doença aqui, ela é considerada rara e termina acontecendo de eu ver vários pacientes na semana. E não é só essa, tem outras várias doenças que eu trabalho que são raras. Então, sarcoidose é uma delas, doenças relacionadas ao tecido conjuntivo, doenças autoimunes, doenças relacionadas a algum tipo de exposição, a mais famosa é pneumonia de pertencialidade e daí tem outras que são até mais raras.
M: Nossa, que interessante! E qual é o maior desafio para o tratamento dessas doenças raras que o senhor citou?
A: O maior desafio é o fato de elas serem tão raras que é difícil a gente conseguir estudar. Porque na medicina, para a gente conseguir definir um tratamento que realmente esteja eficaz para determinadas doenças. A gente precisa fazer pesquisa clínica que é quando você pega uma quantidade grande de pessoas que estão expostas àquele problema, ou seja, ou tem a doença ou tem uma chance grande de ter essa doença e você faz algum tipo de tratamento ou intervenção com essas pessoas. Normalmente, você coloca um tratamento que a gente acredita que vai fazer bem e um placebo. E a partir daí os resultados vão me dizer que aquela doença realmente responde ao tratamento ou simplesmente o tratamento não faz diferença nenhuma e a melhora que muitas vezes a gente vê é o que a gente chama de placebo. Por isso que tem determinadas terapias que a gente não fala que não acredita, a gente fala que não tem estudo. Acreditar é uma coisa, acreditar é uma coisa subjetiva, é pessoal. Eu acredito que o Brasil vai ter a medalha de ouro no futebol feminino amanhã. A gente só vai saber isso depois do jogo, então a gente precisa de dados para poder afirmar determinadas coisas. Então, não é que eu não acredite em remédios que estão colocados, é que faltam dados que me digam que esse remédio funciona, são coisas diferentes. E em doença rara isso é a regra. Na maioria das doenças que são comuns, hipertensão, diabetes, colesterol alto, a regra é você ter dados que digam quais são os tratamentos que funcionam. O incomum é você ter terapias inovadoras e diferentes, nas doenças raras é o contrário. A gente tem muito poucos dados e muito mais evidências científicas que a gente chama de fracas, são pobres, a gente tem pouco estudo, são poucos pacientes estudados, a gente não consegue juntar o número mínimo de pacientes.
M: Entendi. Então o principal desafio é realmente essa falta de dados, ou eventualmente a falta de acesso aos dados que podem existir em outros lugares talvez, mas a falta de dados. Entendi! Doutor, e o que geralmente acontece quando uma pessoa tem uma doença rara? O diagnóstico acontece adequadamente no tempo correto ou não? Como é que é essa parte para o paciente que tem uma doença rara?
M: Infelizmente, o diagnóstico de uma doença rara é muito lento. E isso não é só no Brasil. A gente tem vários dados mundiais de determinadas doenças, que o tempo entre o início dos sintomas e o diagnóstico termina sendo muito lento, muito lento mesmo, é muito longo. O exemplo que eu falei sobre a fibrose pulmonar, a fibrose pulmonar mais estudada, chama fibrose pulmonar idiopática. O tempo médio entre o início dos sintomas, a procura de um médico e o diagnóstico final é em torno de um ano. Isso não só no Brasil, mas em outros lugares. E um ano sem tratamento é um ano de doença que progrediu e que não volta mais. Então, infelizmente, o fato de serem doenças raras, incomuns e que as pessoas não estão acostumadas a ver, termina trazendo esse atraso muito grande naquilo que é super importante pra gente poder definir o que fazer com o paciente, que é o diagnóstico. E eu, infelizmente, estou muito acostumado, é uma coisa que eu até luto nas aulas que eu dou, é de trazer conhecimento às pessoas, de ensinar e indicam que aquela doença que ela está vendo é uma doença rara e que a gente precisa fazer diagnóstico antes.
M: Entendi. O que o doutor falou é muito interessante porque a minha mãe, ela teve uma doença autoimune rara e foi muito difícil pra gente como parente dela ver ela piorando. Ela levou dois anos pra receber o diagnóstico correto. E foram dois anos em que tentava um tratamento, não funcionava, tentava outro, não funcionava… foi assim desesperador. Mas felizmente, depois de dois anos, ela teve o tratamento correto e o tratamento dela durou 10 anos, mas graças a Deus ela melhorou. Ela ficou ótima! Hoje ela tem uma vida normal, se recuperou 100% dos sintomas. Então, eu queria lhe dizer que é muito importante esse trabalho que o doutor está fazendo com doenças raras, queria agradecer em nome de todos os parentes de pacientes de doenças essas áreas porque o que o estudo faz é muito importante. O que te motiva a seguir essa área tão desafiadora, que tem poucos dados, que demora o diagnóstico? O que te motiva para seguir nesse caminho?
A: Olha, a gente tem vários motores, é óbvio, né? São combustíveis que fazem com que a gente continue seguindo em frente. A gente tem muitas derrotas, não vamos deixar também achar que a gente vive só no mar de flores. A gente tem muitas derrotas, tanto porque o fato de as doenças raras serem pouco estudadas, muitas vezes a gente não tem quase. Eu já perdi muitos assuntos para doença rara, porque a gente na verdade chega num ponto que a gente não sabe mais nem o que fazer. Tem poucos dados, poucas medicações. Esse é um dado que faz com que a gente pense: poxa, será que eu estou no caminho certo? Mas, ao mesmo tempo, sempre tem alguém que você sabe que você conseguiu agir de uma forma que modificou a vida dela, como você mesmo está falando, na sua mãe. E isso traz uma relação muito grande porque a gente sabe que aquela pessoa foi sofrida. Ela passou em vários médicos e ela chega em alguém e fala assim “olha, eu realmente consegui alguma coisa que eu não tinha esperança”. Até recentemente, publiquei a foto de uma paciente minha que tem um tipo de fibrosis pulmonar e ela fazendo um mergulho em Fernando de Noronha, uma foto linda dela. E a história é a seguinte, ela me mandou uma mensagem, perguntando, falando que estava em Fernando de Noronha, perguntando se ela poderia fazer um mergulho, que era um sonho da vida dela. E a minha resposta foi assim: pode! Claro! Desde que você me mande uma foto mostrando você mergulhando. E aí ela mandou a foto pra mim e foi ótimo! Esse tipo de coisa nos realiza. Na época da Covid, que eu acho que foi uma das partes mais difíceis da minha vida, eu pedia para os pacientes que conseguiam ir para casa depois de sair de um quadro super grave, sempre me mandarem fotos de como eles estavam. Então, algumas dessas eu até publiquei, que foram grandes realizações para eles e para mim também porque consegui dar a oportunidade de fazê-los chegarem naquilo, é extremamente recomendável. E isso aí que move a manter em frente.
M: Que legal, doutor. Que joia. A comunidade médica fora dos grandes hospitais das capitais, ela está preparada para tratar doenças raras? O doutor já falou pra gente que é uma coisa difícil que o doutor até ensina nos cursos e tal, mas aí então vamos aproveitar esse momento. Qual que seria a conduta adequada então, se o senhor puder falar pra gente, então de um médico que está fora dos grandes hospitais: como é que ele identifica, então, essa questão que é uma doença rara e que, de repente, qual a conduta que ele deve ter quando ele suspeita que o paciente dele está com uma doença rara?
A: Eu acho que o primeiro ponto é sempre desconfiar da possibilidade. Eu acho que, como médico, a gente tem que sempre pensar no mais comum. Olha, esse quadro provavelmente é um diagnóstico simples, mas a partir do momento que as coisas não funcionam do jeito que seria esperado para aquele diagnóstico, você começa a colocar uma pulga atrás da orelha. Olha, eu fiz um diagnóstico de X, ele não está se comportando como X: será que eu estou deixando passar alguma coisa? Então, eu acho que é um exercício para todos os médicos é sempre perguntar se a gente está certo no diagnóstico. Será que a gente está certo? Eu tenho muitos pacientes que muitas vezes eu gosto de comentar, olha, o seu melhor diagnóstico no momento é a salva. Por quê? Eu não consegui encontrar nada que pudesse justificar esse quadro e que encaixe um diagnóstico, mas que não está perfeito. Então, isso me ajuda e ajuda o paciente a sempre ficar se perguntando: será que tem algum exame novo? Será que há um teste novo disponível? Algo mais que eu possa fazer pelo paciente? Algo que eu esqueci de pedir? E que possa me ajudar a tentar esclarecer essa dúvida que eu tenho? Então, acho que essa é uma dica primordial. E a partir do momento que a gente tem uma dúvida e fica pensando se está no caminho certo. Pedir ajuda é sempre importante porque, querendo ou não, a gente termina se acostumando a ver determinado tipo de coisa e quando vem algo muito fora do padrão, não vejo problema algum e você fala, olha, eu acho que o seu quadro vai ser melhor conduzido por alguém que vê esse tipo de coisa com mais frequência do que eu. Eu coloquei um exemplo da fibrose cística que é uma doença e é muito confundida com fibrose pulmonar. E eu tenho uma pessoa do meu lado, meu sócio, que é o Rodrigo, que ele é super especialista, um dos maiores no Brasil, no mundo, em fibrose cística. Por que eu vou ficar sofrendo com fibrose cística se eu tenho alguém que atende do meu lado e fala, olha, tem um diagnóstico, um diagnóstico que de verdade tem alguém que consegue lidar muito melhor do que eu? E aí você passa. É óbvio que às vezes tem pacientes que até se identificam com você e falam assim não, mas eu quero manter o segmento com você. Mesmo que eu trate com outro médico, eu gosto da forma como você me trata, eu me identifiquei, porque tem essa parte pessoal, né? Medicina tem uma coisa muito pessoal, né? A Sociedade Brasileira de Pneumologia, ela tem um serviço de centros de referência em doença pulmonar intersticial que é esse tipo de doença pulmonar mais rara, centro de referência em fibrose cística, centro de referência em infecções pulmonares que são doenças respiratórias graves, incomuns, raras e que muitas vezes a gente precisa de ajuda assim para tratar. Eu acho que essa é a melhor forma que a gente pode agir.
M: Então aí no caso seria o médico mesmo procurar essa Sociedade Brasileira de Pneumologia então?
A: É uma forma.
M: Outra que o doutor falou foi a teleconsulta, né? Eu vi que o senhor trabalha também numa clínica, a CDRA, que faz teleconsulta para médicos, né? Sobre coisas especialistas, eu entendi correto, é isso mesmo? A gente faz normalmente a teleconsulta para pacientes. Obviamente eu tenho contato com médicos que muitas vezes me procuram pelo próprio Instagram, por exemplo, mandam mensagem e falam que olha “estou com um caso que eu preciso de uma ajuda. Você pode ver e aí?” Eu falo: posso. Passo o contato, a gente agenda. Existem alguns tipos de caminhos onde você pode colocar um caso e esse caso ser discutido por profissionais através de uma plataforma. A Sociedade Brasileira tem uma plataforma que faz isso. Eu não faço parte da plataforma da Sociedade Brasileira, mas ela tem. E tem indústrias farmacêuticas que também disponibilizam uma plataforma de segunda opinião gratuitamente para o médico e para o paciente, que a gente opina sobre determinados casos de uma forma sem interferência dessa indústria em si. De uma forma geral, existe muita liberdade para a opinião dentro do que é, para ser o mais assertivo e proveitoso para o paciente e para o médico.
M: Nossa, que interessante. Então, por exemplo, o médico pode colocar o caso dele e aí esse caso, ele recebe a opinião de outros médicos nessas plataformas. E o paciente também pode fazer isso? Ele também pode entrar nessa plataforma e colocar o caso dele e aí receber a opinião de outros médicos gratuitamente, é isso mesmo?
A: Não, o paciente em si não pode.
M: Ah, tá. Não é pro paciente.
A: Porque tem outros médicos.
M: Aham, entendo.
A: O paciente, para poder fazer uma avaliação, ele tem que ou fazer uma consulta, uma teleconsulta com algum profissional. Ou existem determinados tipos de ação, muitos deles com iniciativa pública ou privada, onde médicos fazem teleconsultoria para outros médicos que estão em locais onde não tem tanto costume, tanto hábito de ver casos incomuns. Um dos mais famosos que teve recentemente foi a UTI respiratória lá da sala clínica. Os médicos da UTI da sala clínica prestavam teleconsultoria para médicos que estavam em outras UTIs no cuidado de pacientes com Covid, por exemplo. E esse tipo de iniciativa tem não só nas salas clínicas, mas tem, por exemplo, do Hospital Albert Einstein que você citou, onde eu também trabalho.
M: Legal, interessante. E o doutor falou alguma coisa de empresas farmacêuticas, ou eu entendo errado? Tem empresas farmacêuticas que fazem isso? Tem indústrias farmacêuticas que fazem isso. Existe um… Como existem um problema sério, muitas vezes para diagnóstico e manejo de pacientes com doenças incomuns, e hoje em dia existe um direcionamento para tratamento de doenças raras como um todo. Existem medicações que estão sendo lançadas, voltadas para pacientes que tem doença rara. Existem iniciativas que ajudam a essas doenças raras serem diagnosticadas. Então eu vou dar um exemplo dentre vários que existem. Existem tratamentos em quimioterapia, para isso você precisa fazer, já que quimioterapia não, vamos falar que é uma terapia algo, uma terapia mais direcionada, e para isso você precisa definir melhor qual é o paciente que vai se beneficiar desse tratamento muitas vezes com testes genéticos. Esses testes são extremamente caros. O que é que acontece? Muitas vezes eu tenho um remédio X, vamos dizer um remédio A, ele serve para o câncer C. Só que para eu chegar no diagnóstico do câncer C, eu preciso fazer um teste que custa R$ 10 mil para o paciente. E o paciente vai falar que “bom, eu não tenho R$ 10 mil para pagar esse teste”. Se o paciente não paga esse R$ 10 mil, a gente não tira o diagnóstico, o remédio não é dado. A indústria, como ela tem essa possibilidade, fornece para os médicos o direito de pedir determinados exames e ela banca o exame. O risco de vir positivo ou negativo fica para a indústria. Veio positivo: ela tem um paciente para dar o remédio. Onde é que ela lucra nisso? Ela lucra no diagnóstico mais correto do paciente para usar o remédio que ela tem pra dar. Existe um lucro, não é uma coisa completamente fora de um objetivo. Mas por outro lado, é um lucro onde você tem ganha-ganha porque o paciente não ia conseguir fazer o exame. Não é todo mundo que tem 10 mil reais pra fazer o exame a qualquer momento. Então, ele ganha pelo fato de que ele tem acesso a um exame que ele não teria e ele vai ter acesso a um tratamento que é melhor do que todos os outros.
M: Que ótimo! Isso dá uma liberdade para o médico também, né? Uma segurança para o médico, tipo, uma liberdade de poder pedir um exame que talvez o paciente não pudesse fazer, o médico que é parceiro dessas indústrias, né? E possibilita, de repente, salvar a vida, né?
A: E essa parceria, só pra ficar muito claro, não é uma parceria que seja financeira. Ninguém recebe porque isso tem que ser. “Ah, mas ele tá ganhando alguma coisa por isso”. O médico não recebe nada pra poder fazer esse tipo de coisa. Quem ganha no final das contas é o paciente, pela possibilidade de ser tratado, e a indústria que vai receber os royalties pelo remédio que ela criou e tá ajudando a tratar. Eu acho que nesse ponto é um ganha-ganha dentro do final das contas, sabe? E como eu dei esse exemplo de um teste diagnóstico, existem várias formas que esse tipo de coisa acontece, e uma delas é com teleconsultoria. Então, existem casos onde um médico, sem dúvida de um diagnóstico, fala assim “olha, vou pegar a opinião de outros médicos, que estão mais acostumados com isso”. E jogam nessa plataforma e recebem opinião. “Olha, realmente alguma coisa que parece que vai se beneficiar de determinado tratamento, tratamento de X ou Y, ou não, não vai se beneficiar de nada.
M: Legal, entendi! Doutor, o doutor falou de inovação no diagnóstico, esses tratamentos, esses exames genéticos, para o desenvolvimento de novas medicações. E tem muitas inovações hoje em dia nessa questão de tratamento de doenças respiratórias raras? Tá acontecendo, é um ramo que está acontecendo inovação?
A: Existe muita. Quando a gente fala um termo, chamado pipeline, isso quer dizer as medicações que estão intercedidas para determinadas doenças. Então, essas medicações, o pipeline que a gente tem para doenças respiratórias raras é gigantesco. Existe recentemente um investimento muito alto na indústria farmacêutica, tanto no diagnóstico como no tratamento dessas condições. Porque são doenças muito difíceis, muito raras, e às vezes uma terapia muito específica a alvo consegue modificar o comportamento dessa doença. Por exemplo, eu falei sobre o câncer, a gente consegue identificar alterações genéticas e a gente já tem medicações que vão lá e bloqueiam essas alterações genéticas. É como se você simplesmente tirasse aquela atividade do câncer da vida da pessoa, então vira tratamento crônico. Então, por exemplo, eu tenho um exercício que eu tenho que tomar remédio para a pressão o resto da minha vida. Eu tenho melanoma, que é um câncer de pele super grave, eu vou ter que tomar um remédio para o resto da minha vida. É mais ou menos esse mesmo racional hoje em dia, para vários tipos de câncer. E existe um pipeline muito grande para doenças raras respiratórias. Nesse mesmo contexto, a gente identifica determinadas alterações genéticas, determinadas moléculas que são as causadoras de doenças. Existe pesquisa muito grande em identificar um tipo específico de molécula ou de anticorpo que bloqueie exatamente essa molécula defeituosa, essa proteína defeituosa no corpo e bloqueie a sua ação. Então a gente tem uma perspectiva muito boa de lançamento de novas medicações para as áreas respiratórias nos próximos anos.
M: Que legal, doutor! Que incrível isso! Incrível mesmo! Agora eu vou perguntar pra vocês que estão nos assistindo, em cima desse assunto que o doutor falou: como é que vocês se sentiriam em relação a receber um tratamento inovador como esse que o doutor falou? Um tratamento novo, né? Vocês se sentiriam seguros ou inseguros? Eu vou pedir pra vocês responderem nos comentários. Se vocês tiverem também algum caso que aconteceu com vocês ou com algum familiar ou conhecido envolvendo tratamentos inovadores, se vocês puderem escrever. Enquanto isso, eu queria só tirar uma dúvida em relação a esse tratamento inovador que o doutor falou de câncer. Então, identifica essa molécula que está [inaudível] e daí a pessoa tem o remédio que ela toma para o resto da vida, mas aí ela vive sem câncer. O câncer para de progredir, esse que é o conceito? Um exemplo de um tratamento inovador que o doutor falou ou eu entendi errado?
A: Não, existem vários tipos diferentes de tratamento. É que é tudo muito mais complexo do que a gente possa imaginar. Então, eu vou explicar. Existem determinados marcadores, que a gente chama, que são alterações genéticas, que foram mutações que aconteceram dentro das células subterígenas, e que a gente consegue bloquear essas alterações genéticas. Então é como se você pegasse aquele câncer e você, vamos dizer que seja uma massa, um módulo, uma bola. Você consegue reduzir essa bola de 95% do tamanho. É quase como se ele sumisse. E aí existem várias possibilidades: Tem casos onde essa redução ela fica perene, persistente e dura anos, como se a pessoa tivesse sido curada. Só que se ela suspende a medicação, ele volta a crescer. Existem também casos onde você tem essa resposta fantástica, mas tem algumas células cancerígenas no meio daquele câncer e tem um outro tipo de mutação ou desenvolve algum tipo de resistência aquele tratamento, voltam a se proliferar e o câncer volta. Então, existem as duas possibilidades. Então, falar em cura do câncer ou invencível do câncer ainda é um horizonte muito mais visível hoje do que era.
M: Nossa! Que legal, doutor. Isso é fenomenal, né? Nossa, incrível mesmo! Vamos ver se alguém fez algum comentário aqui. Aqui, a gente recebeu uma resposta do André: que se o tratamento tivesse sido discutido em alguma plataforma, ele se sentiria seguro, né, a fazer o tratamento inovador. E como que o doutor, como médico, se sente quando prescreve um tratamento inovador pouco utilizado no Brasil? Isso acontece na sua prática e como que o senhor se sente quando isso acontece?
M: Isso acontece. É que, na verdade, a gente quando fala em tratamento inovador, na verdade, para chegar na linha de tratamento, ele já foi extremamente estudado. Então, não é nada, nenhum de nós descobriu algo que é mágico. Todos os tratamentos que são novos foram especialmente estudados antes de chegarem até a distribuição aos pacientes. Quando a gente prescreve, a gente obviamente tem uma expectativa muito boa. Tem uma das medicações usadas para asma grave que eu tive o prazer de ser o primeiro a prescrever a medicação em São Paulo. Ficou muito legal isso que você está falando. É uma medicação nova ainda, e a paciente em questão, ela teve uma mudança na vida dela, uma coisa que foi fenomenal! Ela tinha um asma onde ela usava muita medicação por dia: ela dependia de corticoide, ela tinha falta de ar para fazer poucas coisas, e com o tratamento inovador, ela passou a andar de bicicleta na praia, coisa que para ela era impensável. Então, esse tipo de coisa é excepcional! Você saber que existem medicações que estão sendo pesquisadas e que podem trazer realmente respostas clínicas extremamente satisfatórias. E é engraçado que eu até brinco, assim, ela passava em consulta comigo a cada três meses, então ela vivia no consultório. Depois que chegou essa medicação, agora eu vejo ela uma vez por ano, né? Então ela mal virou minha paciente de quase nunca, né? Eu brinco até que eu perdi paciente, mas não, isso é o melhor possível, ela não precisa mais de mim. Eu acho que esse tem que ser o nosso objetivo como médico, é fazer com que o paciente não precise mais de você. É óbvio, tem doenças que a gente não consegue livrar o paciente por todo, né? Mas quando tem alguma coisa que é nova, que foi bem indicada e que a gente consegue mudar a vida do paciente, é extremamente recompensador.
M: Nossa, que legal, doutor. Então é empolgante poder prescrever essas medicações novas, que bom. E o doutor já contou pra gente, estão no tratamento que o doutor aplicou para asma e asma é uma coisa tão comum, né? Legal. Quais são os países em que há mais inovações e pesquisas sobre doenças respiratórias, doutor?
M: Como um todo, isso é muito cultural. No Brasil, infelizmente, a gente ainda tem muito aquela mentalidade de cobaia. Muitas vezes os pacientes falam assim “eu não quero porque eu não quero ser cobaia”. Isso tem mudado, mas ainda é muito comum ouvir esse tipo de argumento. E uma forma que eu gostaria de trazer para quebrar isso é o seguinte: já tem estudos que mostram que aqueles que estão sendo pedidos por algum tipo de pesquisa clínica, de ensaio clínico, de alguma terapia nova. Mesmo aqueles pacientes que recebem o placebo, ou seja, não recebem a medicação do estudo, esses pacientes vão melhor do que aqueles pacientes que não entram em estudo e ficam só com o tratamento habitual. E por que isso? Porque o estudo fica sendo visto por um profissional de saúde com frequência muito grande, tem várias pessoas que estão preocupadas com os cuidados dele. Se tiver qualquer efeito colateral estranho, qualquer novidade, ele tem o telefone para ligar, para tirar dúvidas, ele vai ser atendido, você não precisa estar atrás. Então, participar de um estudo clínico melhora o que vai acontecer em relação à sua doença, no grupo medicação inovadora ou no grupo placebo: Tanto faz.
M: Nossa, que interessante, doutor. Que interessante saber que mesmo quem recebe o placebo tem melhora. E faz sentido, né? Por causa dessa atenção toda. Fenomenal! Fenomenal! Nunca tinha visto isso, nunca tinha ouvido esse conceito, essa ideia. Que legal!
A: E aí, respondendo a sua pergunta, os locais onde se faz muita pesquisa são os locais clássico. Estados Unidos é uma potência em pesquisa clínica, acho que a maior parte das medicações como um todo vêm de lá, mas a Europa em si também é um celeiro, vamos falar assim, de pesquisa clínica. Em dezembro eu tive a oportunidade de conhecer um hospital em Barcelona, passamos uma semana, e 90% da população espanhola é atendida em serviços públicos. Então, eles estão muito acostumados a fazer pesquisa. É interessante porque eles são super, mas muito abertos à possibilidade de entrar em pesquisa. Eles até gostam. Então, é muito diferente no Brasil a mentalidade, a cultura brasileira, da mentalidade e cultura de locais. Então, Europa, Estados Unidos, Japão são locais onde fazem muita pesquisa clínica. E tem aqueles emergentes, a China está chegando forte nisso, por exemplo.
M: Interessante, legal! No caso, como que os pacientes ou parentes de pacientes, o pessoal que está nos assistindo no Instagram, como é que eles podem se informar sobre doenças respiratórias raras e seus tratamentos? Por exemplo, esse tratamento para asma inovador que o doutor aplicou na sua paciente. Qual que é o melhor caminho para eles se informarem? Tem algum app, site, plataforma que eles possam pesquisar o paciente mesmo? Ou parentes do paciente?
A: Existem alguns caminhos. É óbvio que no fim termina no médico. O médico e o paciente que vão decidir qual é o melhor caminho para ele tomar. Mas se o paciente quiser procurar ele mesmo, que eu acho que é super válido, informação, existem várias formas. Existem Associação Brasileira de Asma Grave, que é da Raíssa Cipriano, acho ela ótima nisso, ela ajuda bastante o atento com asma, mas tem associação de fibroses, de várias outras doenças que podem ajudar. A própria internet é um centro onde você consegue ter informações. Você falou do nosso site, o site da nossa clínica tem bastante informação sobre diferentes doenças, doenças raras também, então é forma de você se atualizar. E a gente vai lançar agora, na verdade já está em beta, um assistente plasmático, um assistente virtual, onde ele pode conversar com esse assistente e tirar algumas dúvidas sobre a sua doença e sobre tratamentos inovadores também.
M: Legal, doutor. Eu vou compartilhar com o doutor uma experiência minha também. Uma vez a minha filha teve um problema de dor de cabeça e a gente passou por vários médicos até descobrir um tratamento que não tivesse efeitos colaterais, que o problema dos tratamentos que estavam sendo indicados era o efeito colateral. Na época eu achei muito difícil conseguir informações mais aprofundadas. Eu nem pensei em procurar uma associação para mãe de criança com dor de cabeça, nem se existe, mas eu não tive essa ideia. E como eu sou engenheira, para mim era muito importante ter acesso a números, estatísticas, para me dar segurança em relação ao que fazer. E eu vasculhei a internet e eu acabei encontrando as informações que eu precisava só em livros de medicina que tinha lá “o tratamento A, tem tanto de eficácia, tratamento B, tem tanto de eficácia”. Acabei comprando esses livros e lendo. E eu fiquei chateada com isso, porque eu pensei em outras pessoas que talvez não iam ter essa paciência de comprar um livro de medicina, ler até o dinheiro para fazer isso. E fiquei pensando que tinha que ter uma forma melhor para ter essas informações porque é um caminho que as pessoas podem seguir e ter esse apoio de uma maneira mais fácil. Que critérios, quando o doutor vai prescrever um tratamento… qual critério que o médico deve utilizar para decidir qual tratamento prescrever? Por exemplo, entre um tradicional ou um inovador, qual é o critério que o doutor usa? No caso da minha filha, eu estava querendo eficácia, mas qual é o critério adequado? E eu não sou médica também, então não conta, mas qual é o critério que o médico deveria utilizar?
A: Na verdade, não é um critério. Um critério é impossível: primeiro ponto. Quando a gente faz uma pesquisa científica, a gente junta pacientes entre aspas ideais, muitas vezes até difíceis de serem encontrados na prática clínica diária. Então a gente tenta se cercar de várias coisas. Então a gente tem os critérios de inclusão para eles se encaixarem melhor e a gente conseguir avaliar a eficácia da medicação de uma forma perfeita. Quando a gente joga isso para a vida real, a gente vai ver que o paciente que está na nossa frente não é exatamente aquele que entrou na pesquisa. Então a primeira coisa que a gente tem que fazer é tentar colocar aquele paciente e encaixá-lo no melhor estudo que tem. Então ele talvez não se encaixe nenhum, mas olha, ele tem um perfil muito semelhante ao perfil que foi estudado para droga tal. Acho que esse é o primeiro ponto. Outro ponto importante é saber quais são as doenças que esse paciente tem em conjunto com aquela doença que eu vou tratar: as comorbidades. Ele tem alguma comorbidade que contraindica o tratamento que eu vou passar? Às vezes acontece. Então: olha, eu queria dar tratamento X, mas ele tem uma contraindicação absoluta a Y, esse X tá fora. Então eu vou ver quais são outras alternativas. E não só isso, tem medicações que não tem contraindicação para determinadas doenças, mas elas podem trazer doenças novas. Será que essas doenças novas vão ser limitantes frente às doenças que ele já tem? Ou será que vai atrapalhar tanto a qualidade de vida do paciente que não vale a pena colocar? Então, não é uma decisão pura e simples baseada em um critério, a gente tem que colocar tudo isso. E muitas vezes a gente precisa trazer a parte da intimidade do paciente na decisão. E é falar assim: olha, esse remédio aqui dá muita diarreia. E aí, o que você pensa sobre isso? “Pô, doutor, eu passo o tempo inteiro fora de casa, não dá. Eu trabalho não sei aonde, lá não tem banheiro, não posso mais ter remédio”. Então não pode. Então, não é simplesmente chegar, ó, esse é o melhor remédio pra você e pronto, né? A gente tem que colocar uma balança, dizer os prós e contras de cada uma delas e a partir daí a gente define com o paciente qual o melhor tratamento pra ele.
M: Legal, doutor! Nossa, perfeito! Perfeito, obrigada! Eu consegui entender bem isso. No caso, agora mudando um pouco de assunto, vamos falar um pouquinho sobre tratamentos alternativos para problemas respiratórios. Por exemplo, hoje está na moda os tratamentos, não está muito na moda aqui no Brasil, mas está na moda na mídia, tratamentos digitais. A pessoa instala um aplicativo, usa um gadget que fala para treinar a respiração e tal. Tem também tratamentos fisioterápicos, homeopáticos e de acupuntura. Qual que é a sua opinião sobre esses tratamentos alternativos para problemas respiratórios?
A: Eu acho que faltam dados. Ele volta àquilo que a gente conversou no começo da live. Existem coisas que a gente acredita ou não, e o fato de acreditar ou não é subjetivo. Esse tipo de tratamento precisa de dado objetivo para você dizer se ele é eficaz ou não. Então, antes de dizer que eu gosto ou não gosto, eu quero ter dados que me digam se funciona. Se funcionar, eu vou gostar. Se ele não tiver dado que mostra eficácia, é algo que provavelmente eu não vou usar. Então, esses tratamentos baseados em gadgets e outras coisas ainda está muito no começo. Na parte expiratória em si, a gente não tem nenhuma resposta que mostre algum tipo de benefício. Um dos exemplos maiores que eu gosto de dar é o canábis. É muito comum na consulta de pneumologia as pessoas perguntarem sobre o cannabis como algum tratamento que pode aliviar falta de ar, alguma outra coisa. Olha, não é o fato de eu gostar ou não gostar de canábis, mas não tem estudo. Se não tem estudo, ou os poucos que tem não mostram benefício, eu acho que não tem porquê querer pensar em usar isso. A gente tem outras coisas que já foram estudadas e que mostram benefício. Por que eu vou usar algo que ninguém sabe que funciona realmente? E que se a pessoa fala assim “ah, eu usei, estou me sentindo muito melhor”, será que na verdade isso é um efeito placebo? É muito comum o efeito placebo. É o fato da pessoa usar e querer melhorar. E tem outro detalhe também importante que eu vi recentemente: é aquela pessoa que disse que fez um determinado tratamento e melhorou horrores, é a mesma pessoa que traz, que vende aquele tratamento. Então existe um conflito de interesse muito grande. “Olha, eu usei isso, deu muito bem em mim. Eu tenho ele aqui pra você por módicos mil reais”. Será que funciona mesmo? Então, eu... Todas as escolhas delas precisam ser baseadas em dados. “Ah, tem uma tecnologia inovadora aqui, eu quero te mostrar se funciona pra você ver se é legal ou não”: tá bom, manda o estudo que mostra que ela tem dados que estão funcionando. Ah não, tem estudo que mostra que os dados funcionam. Beleza, então deixa eu ver se é realmente fácil de usar, se é legal, se realmente é algo que me parece ser útil. Então, esse é o caminho.
M: Perfeito, doutor. E nesse caso, quando é que o doutor consulta? Tem alguma base de dados para consultar a eficácia desses tratamentos alternativos, fisioterápicos, homeopáticos. Está acessível isso para o médico pneumologista, por exemplo?
A: Tem acesso em várias formas, tem muitos acessos. Quando eu quero um arquivo científico onde eu consigo me aprofundar mais sobre determinado assunto a gente usa a plataforma americana chamada PubMed. Acho que todo médico conhece. O PubMed me dá uma quantidade quase infinita de artigos. O grande trabalho do PubMed é você identificar aqueles que realmente são bons, que têm boa qualidade técnica, qualidade científica, fácil leitura e entendimento para você usar na sua prática clínica, mas talvez seja o local mais raiz para você conseguir chegar numa resposta para uma pergunta que você tenha. O problema é que lá tem muitos artigos que precisam ser pagos. Então eu tenho a sorte de trabalhar em algumas instituições que dão acesso a várias revistas médicas, que fazem uma assinatura, e elas me dão acesso a várias revistas médicas onde conseguem me atualizar. Existem formas de você conseguir esses artigos também pela própria indústria farmacêutica. Algumas indústrias dão a possibilidade de você, de uma pesquisa bibliográfica, e fala “olha, eu queria esses artigos” e eles compram esses artigos e mandam para você. Não é impossível. Olha, tem como pedir para um colega que tem acesso à revista e você pede a ele. Tem também algumas plataformas de médicos. Eu uso muito a UpToDate que é americana e agora estou usando também o Dynamedic americano. São duas plataformas em literatura médica que também dão acesso a uma quantidade muito grande de informações. É como se fossem livros digitais de medicina online. Nossa capacidade de acesso, de uso é gigantesca. Tem aplicativo de celular. Nos hospitais que eu trabalho, a gente tem acesso gratuito a isso. Por exemplo, no Einstein, a gente tem acesso gratuito a todo o UpToDate. Outro lugar que eu trabalho, em [inaudível] , me dá acesso gratuito ao Dynamedic, de onde eu estiver. Então, eu tenho uma facilidade grande de acessar literatura sempre que eu consigo.
M: Interessante, legal doutor! Então, para o doutor é fácil, mas para outros médicos que não estão associados a essas instituições, o trabalho é um pouquinho mais trabalhoso, mais caro, mais complicado de chegar na informação.
A: É, mas não é tão assim difícil. Eu não vou saber dizer, mas eu lembro que eu já acessei sites de indústria que você, pelo site da indústria, tem acesso ao UpToDate. Se você quiser só fazer um cadastro na indústria, você acessa a área médica e sem nenhum tipo de obrigação de prescrição de medicação, nada desse tipo. Você acessa e eles te dão acesso ao UpToDate. Salvo engano, a Sociedade Brasileira de Pneumologia também dá acesso aos associados ao UpToDate. Eu não vou falar, assinar embaixo porque faz tempo que eu não acesso, mas eu lembro que eu vi isso em algum momento no passado. Eu acho que eles ainda continuam fazendo isso também.
M: Entendi, legal! Doutor, voltando à questão dos tratamentos alternativos, o doutor já viu algum tratamento alternativo que seja mais eficaz do que o convencional? Tem algum tratamento alternativo que o senhor já recomendou e não funcionou?
A: Não. Veja, Tratamento alternativo termina sendo um termo que a gente fala sobre medicações pouco estudadas ou formas de ação que tem pouca evidência na literatura. E esse tipo de tratamento é algo que eu não faço e também não sou muito afeito porque a medicina, ela parte de um pressuposto muito importante, que é: antes de tudo, não fazer mal. Então, antes de qualquer tipo de conduta, tratamento que eu venha prescrever para um paciente, eu tenho que me assegurar que a chance disso ter um efeito colateral que vai fazer mais mal para o paciente seja muito menor do que o efeito benéfico que esse tratamento venha fazendo. Quando a gente fala de terapias alternativas de lato sensu como um todo, que são coisas pouco estudadas, essa certeza de que aquilo vai fazer, de que aquilo não vai fazer o mal, eu não tenho porque isso não foi estudado. Quando a gente faz uma pesquisa de medicação, ele tem que passar por duas fases. E a primeira fase, antes de saber a sua eficácia, é a segurança. Eu tenho que ter certeza da segurança de determinado tratamento. Se eu não tenho certeza de uma segurança de tratamento, esse tratamento alternativo, eu acho que ele não deve ser usado. Eu não tenho experiência com terapias alternativas.
M: Doutor, e se vamos pegar, por exemplo, o tratamento fisioterápico. Ele é considerado alternativo, se enquadra nesse critério que o doutor colocou ou não? Ele é considerado um tratamento válido e em alguns casos ele pode ser melhor do que a medicação, no caso de fisioterapia?
A: Falar em fisioterapia, a gente está sendo muito amplo, fisioterapia é uma especialidade gigante. Então, o médico faz diferença e fisioterapeuta faz diferença. Aí o ponto é: que tipo de fisioterapia faz diferença? A gente tem vários tipos diferentes de fisioterapia. E eu acho que os fisioterapeutas que eu confio no trabalho, que a gente tem pacientes juntos e que eu sei que a ação deles modifica o custo da doença. E isso é muito importante em doenças respiratórias. Uma coisa que eu gostaria de colocar é que as pessoas muitas vezes falam assim que fisioterapia respiratória melhora o pulmão: isso não é uma verdade 100%, depende da doença. Tem doenças que eu não quero focar na fisioterapia respiratória. eu quero focar na fisioterapia motora, na reabilitação. Às vezes eu não preciso fazer esforço da musculatura porque a fisioterapia respiratória muitas vezes mexe na musculatura e não no pulmão em si. De novo: depende da doença, depende do que eu tô fazendo. Mas tem determinadas coisas que não vão agir tanto, não vão agir na musculatura. Eu quero melhorar a força do quadril, isso assim eu vou melhorar. Eu quero melhorar a força do ombro, pra ele conseguir pegar o neto no colo, entendeu? Depende muito do objetivo que eu quero.
M: Entendi, perfeito! E esses dados, então, sobre esse tratamento, por exemplo, de fisioterapia é um que pode ser encontrado na UpToDate ou nessas ferramentas que o doutor citou também? Ou não? Ou esses tratamentos não podem ser encontrados?
A: Não, existem tratamentos fisioterapêuticos de reabilitação. Uma larga experiência de estudos clínicos, científicos que mostram uma resposta bastante expressiva em várias doenças. Então a reabilitação, por exemplo, é algo que é um trabalho fantástico e excepcional feito pelo fisioterapeuta para pacientes que têm doenças pulmonares crônicas. São pacientes que, às vezes, eles estão na cadeira de rodas usando oxigênio e voltam a ter uma vida normal, onde conseguem andar de sua própria, sair do oxigênio, isso acontece. Isso é para todos os casos, mas para paciente que não consegue sair do oxigênio, vai ser paciente que não vai conseguir voltar a andar como estava. E muitas vezes melhorar. Pode ser que ele não consiga sair da cadeira, mas também depende muito da doença e do paciente. Tem doenças que infelizmente são incuráveis e progressivas. Tem doenças que a gente consegue modificar o curso dela.
M: Legal! Perfeito, doutor! Agora eu vou perguntar pra vocês que estão nos assistindo novamente: vocês já usaram algum tratamento alternativo para tratar alguma doença? E eu vou considerar aqui como tratamento alternativo não só a cannabis, vou considerar fisioterapia, acupuntura, homeopatia e eu queria perguntar para vocês outra coisa: como que vocês ficaram sabendo desse tratamento e se ele deu certo? Se vocês puderem escrever nos comentários aqui um pouquinho. Enquanto vocês escrevem, doutor, e a acupuntura? É o mesmo caso da fisioterapia ou é outra abordagem, outra visão?
A: A acupuntura é um tratamento que para a doença respiratória como um todo, a gente não tem muito dado, mas não que a acupuntura não funcione. De novo, a gente teve dados. Então, a gente tem dados de acupuntura, por exemplo, para tratamento de dores crônicas, de problemas ortopédicos. Então, isso a gente tem dados e elas têm benefícios. Então, de novo: terapia alternativa termina criando algo que você pensa “poxa, é que não foi estudado”. Precisa ter sido estudado e a partir do momento que foi estudado e mostrou benefício, é ótimo. E aí a gente para de chamar de terapia alternativa.
M: Legal, perfeito. Aí não é mais terapia alternativa, legal. Vamos ver aqui, eu não vi nenhum comentário ainda, ninguém respondeu sobre essa questão de... ninguém usou aqui, ninguém usou o tratamento alternativo aqui das pessoas que responderam, ok. Vamos lá então. Doutor, é verdade, o senhor falou dessas plataformas, UpToDate, WebMed, é verdade que a maior parte das pesquisas em centro e área médica não estão em português?
A: Ah, isso sim. A maior parte da literatura mundial é em inglês. Inclusive, várias revistas brasileiras, elas publicam em inglês antes de português. Isso porque quando a pessoa ganhar autoridade, relevância e, querendo ou não, na hora que ela ganha uma autoridade/ relevância, ela ganha mais incentivos para ser mais estudada, a pesquisa precisa ter um financiamento. Se você faz pesquisa que não tem impacto, elas vão perdendo financiamento. Se tem impacto, vão ganhando mais financiamento. Para você identificar impacto no mundo científico, você tem que publicar em revistas que têm alto impacto, e as revistas de alto impacto são aquelas que são mais acessíveis a todo mundo. E a língua mais falada é a inglês, por isso que a China publica em inglês, o Brasil em inglês, a Alemanha em inglês, porque a chance de você fazer um estudo com relevância no mundo científico aumenta muito. E aí o que a gente tem em português, tem algumas plataformas de atualização científica em português, mas pelo próprio uso que nós fazemos. A gente ainda está acostumado a acessar a maior parte em inglês. E hoje em dia o que facilita bastante é que a gente tem várias ferramentas de tradução, o próprio Google ou o chat GPT ou a inteligência artificial, conseguem fazer traduções de textos. Então, se você hoje em dia tem dificuldade num determinado texto e eu quero um texto em chinês, eu posso prestar um texto jornal numa plataforma de inteligência artificial e traduzir em português para mim com uma boa curatividade.
M: Legal, perfeito! Agora vou contar para o doutor um pouquinho de uma coisa que a gente está desenvolvendo aqui. A Linca, que é a dona do Telix, é uma empresa de telecomunicações. A gente trabalha há 25 anos em telecomunicações. E o que acontece, a realidade da internet hoje, é que quando alguém na Austrália ou na Índia publica um site de internet, um site novo na internet, em 24 horas esse site já está disponível indexado no mundo inteiro, qualquer um do mundo inteiro consegue acessar de maneira fácil, ver e classificar. Isso é possível porque a internet inteira trabalha com um protocolo, que é o TCP e IP e o DNS. O que me angustia é que em relação à pesquisa sobre tratamento de saúde, eu pelo menos não vi um patrão, não vi um protocolo. Então, cada ferramenta usa uma forma diferente. Em relação a doenças médicas, a gente tem, tem a CID-11, então você consegue ter estatísticas sobre doença entre os países, é uma coisa que você consegue os dados de qualquer país sobre as doenças. Porém sobre os tratamentos médicos, como não tem um padrão para comparação, um padrão para entrada de dados que seja universal e aceito por todos os países. A gente ainda usa esse caminho de revista, de congresso e cada um é um padrão de espécie ainda, não é um padrão fácil, visual, acessível, como é, por exemplo, o padrão de buscas na internet. Então, a gente está propondo aqui para o doutor, e estamos tentando desenvolver aqui na Linca, um projeto, de criar um padrão para unificação de input de dados de tratamento de saúde. E aí, qual que é a ideia? A ideia seria que, vamos supor, assim como funciona a internet. Tem diversos data centers no mundo que conversam por que a gente consegue acessar um dado longe porque todo mundo usa o mesmo padrão, é só isso que permite. A nossa ideia era ter, estabelecer, usar um padrão para tratamento de doenças também, assim como existe um padrão para doenças, um padrão para tratamento de doenças em centros de dados que seriam dos centros atuais de conhecimento médico, por exemplo, o Einstein, um centro na China, centros nos Estados Unidos, eles todos usando o mesmo padrão, interligados. Isso permitiria, por exemplo, que o doutor, vamos supor que o remédio é bom: o doutor poderia lançar nesse banco de dados imediatamente ali o resultado da sua pesquisa e ela estaria acessível para qualquer um acessar no mundo inteiro, com os dados numéricos também, dados numéricos padronizados. Então, por exemplo, eu quero ver uma eficácia de um tratamento para fibrose cística: o doutor entraria numa base de dados, digitaria lá fibrose física e estaria os tratamentos tabelados por eficácia, fácil de ver. E aí, isso aqui não me interessa, eficácia não é boa, isso aqui interessa, deixa eu ver a confiabilidade. De uma maneira fácil de acessar. A gente acha que isso é uma coisa que seria legal ter. E a gente está trabalhando, desenvolvendo um pouquinho essa ideia. O que o doutor acha dessa ideia? Faz sentido ou não?
A: Olha, eu acho que é um desafio. Primeiro ponto, antes de tudo. O primeiro desafio que eu vejo nisso daí é: como é que você teria um acesso aos dados protegidos? Porque tem um ponto importante que é a proteção de dados. Toda vez que você tem uma pesquisa clínica, e eu participo de pesquisas clínicas, a gente assina um contrato de sigilo. E os dados que estão produzidos têm um dono. E esse dono normalmente não é o hospital, o dono é o financiador. Então, por exemplo, a gente vai falar que são dados que o governo chinês financiou e o dado que o governo brasileiro financiou. Será que é possível a gente colocar isso tudo no banco de dados? Mesmo que eu tire a identificação do paciente, o primeiro desafio é você conseguir acesso aos dados. O segundo é que existem estudos que a gente consegue fazer que os autores pedem acesso aos dados, são liberados e eles fazem uma análise desses dados de estatística, metanálise e revisão sistemática. E a partir daí que você consegue ter dados melhores para poder pegar aquela confusão de dados e ser um racional. E esse cálculo estatístico é muito difícil. Então, assim, eu acho que se a gente tivesse uma possibilidade de fazer isso em tempo real e contínuo seria muito bom, mas eu acho que é muito difícil, esse desafio é muito grande. A BIREME é uma coisa, ele tem muito dado, é brasileiro e a Cochrane é uma biblioteca internacional que ela trabalha exatamente com esse tipo de coisa e talvez se você alguém pra você olhar com carinho.
M: Legal, doutor. Obrigada pela dica. Em relação a essa questão do dono do dado, na internet é assim também, né? O caso é que todo mundo usa o mesmo protocolo. Então, por exemplo, tem lives que são gratuitas e a gente está usando o protocolo TCP e IP para transmitir essa live. A pessoa não tem que pagar nada e tem os cursos que são pagos e que a pessoa daí paga para acessar. Mas tanto faz o conteúdo pago ou o conteúdo gratuito, a infraestrutura que todo mundo está usando é o protocolo TCP IP, tem um padrão normal que é o mesmo padrão. Então a ideia seria desenvolver um padrão de troca de informações na área de saúde, um padrão que seria universal, que todo mundo concordaria, desenvolveria em conjunto e combinaria de usar junto porque a internet foi uma construção que cada órgão foi aderindo. Algumas universidades se implementaram, os órgãos de defesa, e aí o que fazia a pessoa entrar na internet era justamente ela concordar em usar o mesmo padrão e aí se criou todo um ecossistema em cima disso. E a ideia nossa é criar esse ecossistema também. Não criar, contribuir para o surgimento dessa ideia, que se todo mundo usar o mesmo padrão. Só esse conceito, usar o mesmo padrão para tratar esses dados sobre tratamentos de saúde.
A: Entendo. Eu não tenho conhecimento técnico para isso. O que eu posso falar é o seguinte: visão existe, por exemplo, em imagem. Então, as tomografias, as radiografias, os ultrassons hoje em dia todos usam o formato DICOM no mundo inteiro. Então, as diferentes indústrias que fazem seus tomógrafos, todas elas criam dados em DICOM. E aí o DICOM é acessível para todo mundo. Pelo que eu entendo, seria mais ou menos isso. E aí entra uma parte técnica, que para mim é meio complexa de falar.
M: Legal. Não, mas perfeito. O doutor entendeu perfeitamente o conceito. É isso que a gente acha que devia ter na saúde. A gente, como empresa de telecomunicações e comunicação, a gente acha que ia facilitar bastante. Doutor, o doutor trabalha em diversas frentes, o curso de pós-graduação, sua atuação na CDRA e na Optimus Intelligence, gostaria de contar pra gente um pouquinho mais de algum desses projetos que o doutor está trabalhando?
A: Olha, tem o consultório, o consultório a gente tem discutido muito em como melhorar a parte educacional. A gente tem lançado novos vídeos, gravações em estúdio com uma equipe dedicada. Isso é uma forma de trazer mais informação de qualidade. Temos, pós-graduação, uma parceria junto com o Hospital Albert Einstein que é um local de excelência, todo mundo conhece bem. Então, a gente está organizando um curso muito, mas muito didático para melhorar o conhecimento de quem vai participar. E existem também essas iniciativas tecnológicas, como, por exemplo, essa empresa do qual eu sou consultor, que é a Optimus, onde temos aí essa beta de assistente virtual para asmáticos. É uma coisa que a gente acha que vai ser muito útil aí nos próximos meses, anos. Faz um pouquinho de cada.
M: Que legal doutor! E como que é o nome dessa empresa que tem esse assistente virtual para asmáticos?
A: É Optimus.
M: Legal pessoal, fiquem de olho então na Optimus aí, quem tem asma, para a gente acompanhar as novidades aí que eles vão lançar. Já caminhando para o final, qual que é a sua visão para o futuro da saúde, doutor Alexandre?
A: Eu acho que cada vez mais a gente vai ter uma medicina personalizada que é a medicina de precisão. Como eu falei antes, quando a gente faz um estudo clínico, a gente coloca um monte de critério para o paciente se encaixar naquele estudo. Mas esse paciente muitas vezes não é o real que a gente vê no dia a dia do consultório. E eu acredito que a gente vai conseguir personalizar a medicina do ponto de vista de você conseguir dados que antes eram impossíveis de serem coletados e isso vamos juntar inteligência artificial, dados clínicos, genéticos, de forma que a gente vai conseguir personalizar o melhor tratamento possível para cada um deles. Então, eu posso chegar num grau de falar: olha, o seu caso, a dipirona, vai ser melhor do que o paracetamol porque eu vou ter uma capacidade de definir como é a resposta orgânica daquela pessoa a determinados tratamentos.
M: Nossa! Que legal, doutor! Muito joia! Que recomendações de saúde o doutor daria para as pessoas que estão nos assistindo?
A: O que a gente já sabe que faz a gente viver melhor é ter uma alimentação boa: balanceada, frutas, verduras. A melhor dieta em estudos é a tal da dieta do Mediterrâneo que é uma dieta difícil, mas de uma forma geral é menos carne vermelha, mais frutos do mar, mais grãos, verduras e legumes. Atividade física é essencial. A gente sabe que quem vive mais, quem vive melhor, está associado a uma atividade física, a manter uma atividade intelectual, a ter boas noites de sono. Uma coisa que é muito pessoal, acho que a gente precisa de um propósito: se a gente tem um propósito, alguma coisa com que mantermos vivos e ativos ajuda muito em todas as outras coisas.
M: Que legal, doutor! Obrigada. Agora a gente vai abrir para perguntas. Um monte de gente comentou aqui comigo que queria fazer perguntas pro doutor, gente que tem pai que tem enfisema, mulher que tem asma. Agora é o momento da pergunta, pessoal! Quem quiser colocar uma pergunta aqui para o doutor Alexandre, ele vai responder para a gente. Enquanto o pessoal escreve aqui as perguntas, doutor, tem mais alguma coisa que o doutor gostaria de dizer para o pessoal que está nos assistindo?
A: Poxa, a gente falou de tanto assunto aqui… eu acho que se a gente quiser melhorar, como um todo, a gente tem muita saúde, né? Se a gente quiser ter o melhor cuidado possível. A gente precisa ter muita atenção no que é que a gente vai procurar. Eu acho que se criou muito achismo, existem muitos negacionistas, sempre pensando que pode ser alguma teoria da conspiração ou alguém que está querendo lucrar indevidamente. É óbvio que esse tipo de coisa existe no mundo, os seres humanos são assim, mas no mundo científico quem participa dele tenta ser aqueles que mostram um desvio de conduta, eles são banidos. Então é uma coisa realmente muito forte. As pessoas que vieram com tratamentos inovadores, que tinham um bom currículo, eles terminam sendo excluídos desse mundo científico. A credibilidade deles termina sumindo porque na verdade ninguém quer que haja manchas nesse mundo. Então, eu acho que a gente tem que ter muito cuidado com pessoas ou tratamentos que dizem ser milagrosos, que são capazes de mudar completamente tudo. Eu acho que procurem sempre profissionais conscientes que estão realmente preocupados com bem-estar e não exatamente querem empurrar alguma coisa nova ou traduzir como milagrosa e ver se aquilo na verdade. Quanto mais consensual é determinada recomendação, provavelmente é porque tem mais evidência científica. Então se tem alguém que fala muito contra tudo, que vê que a voz é muito diferente da média da comunidade científica, daqueles que realmente se preocupam com o rigor científico das coisas, eu acho que precisa ter um pouco de cuidado. Em um período com caminhos mais obscuros, que na verdade podem trazer até mais mal do que a venda de algo milagroso, na verdade, que pode se mostrar muito pior do que um tratamento convencional.
M: Perfeito, doutor. Muito obrigada pela dica. Obrigada, pessoal. Prestem bastante atenção aqui. Não apareceu nenhuma pergunta aqui, não tô vendo pelo menos perguntas, doutor. Então, ai, deixa eu chegar aqui… três perguntas aqui: quais são os exames de rotina para cuidar da saúde respiratória? Uma pessoa perguntou das consequências do uso dos cigarros eletrônicos para o pulmão e uma pessoa perguntou sobre inovações para o tratamento de enfisema. Doutor, gostaria de responder alguma dessas perguntas?
A: Eu posso responder as três. Sobre quais exames ou procedimentos que a gente faz de acordo com as características das pessoas. Então, um exemplo é o tabagista. Eu não vou fazer tomografia para procurar um câncer de pulmão em todo mundo, mas grandes tabagistas que tiveram a carga muito alta que tem mais de 50 anos, eles merecem fazer tomografia de rastreio de câncer de pulmão, por exemplo. Assim como fazer a espirometria para avaliar se existe algum tipo de alteração na função pulmonar. Então, muito direcionado. E do ponto de vista geral, isso não é só para a epidemiologia. Existem muitos exames que são feitos como, entre aspas, rotina, mas que do ponto de vista de benefício clínico são extremamente duvidosos. Não vou ficar citando porque eu acho que não é meu papel, mas do ponto de vista de saúde geral, que todo mundo merece fazer, o número de exames é muito pequeno. É muito mais importante a avaliação clínica. A outra pergunta foi sobre tratamentos inovadores para DPOC né? O que está vindo, né?
M: Não. Inovações no tratamento de enfisema.
A: Enfisema, aham. DPOC e enfisema terminam sendo sinônimos na maior parte das vezes. Existem medicações, injetáveis que são terapias-alvo, como eu tinha comentado, que a gente tem alguns marcadores que indicam que o paciente tem que ter tratamento. Então, isso está chegando. Assim como tem terapias locais, como por exemplo válvulas, que a gente pode colocar dentro do pulmão para melhorar a mecânica respiratória como um todo. Essas válvulas já existem, essas medicações injetáveis estão chegando, mas também temos aí perspectivas futuras muito boas para o tratamento de enfisema.E acho que tinha mais outra pergunta aqui.
M: A próxima pergunta foi sobre consequências do uso dos cigarros eletrônicos para o pulmão. Essa pergunta é muito importante porque na minha equipe tem um monte de jovens e eu fico transtornada como eles usam o vape. Eu não sei, essa pergunta eu gostei muito. Qual que é a consequência do uso de cigarros eletrônicos para o pulmão, doutor?
A: Olha, as consequências tem várias e várias que a gente ainda não conhece. De uma forma geral, eu posso falar. As pessoas que estão fumando hoje em dia, elas estão sendo realmente as cobaias do que vai acontecer lá na frente. Então, a gente vai ter uma resposta melhor daqui a alguns anos, mas já tem várias doenças que estão relacionadas ao cigarro eletrônico. Então, a pior delas é uma que se chama Evali, que pode até matar. Eu tenho um vídeo no meu Instagram que é exatamente sobre vapes. Como é um tema extenso, eu sugiro para quem estiver nos assistindo acessar o vídeo e ter resposta a essa pergunta.
M: Legal. Mas em resumo, o uso de vape pode até, em alguns casos, desenvolver uma doença que mata, é isso?
A: Sim, em 2019 nos Estados Unidos teve até uma epidemia grande, foi muito falado, de vários jovens que vieram a falecer por causa dos efeitos e infelizmente já tem casos no Brasil disso daí.
M: Que pena, doutor. Perfeito! Olha, muito obrigada pela sua participação nessa entrevista, foi muito ótima! Foi muito melhor do que eu imaginava. Contribuiu pessoalmente para mim de várias maneiras, abriu muitos horizontes para a gente. Tem algumas pessoas que eu conheço que eu já vou pedir para procurarem o senhor, que tem asma crônica. Fiquei muito feliz de saber dessa novidade, que a pessoa pode ficar curada e parar de usar corticóide e tal. Fico muito feliz mesmo em saber dessas novidades. Obrigada por estar aqui à sua disposição e boa sorte aí no seu trabalho! Parabéns, e nos seus projetos também! Eu vou estar acompanhando o desenvolvimento da Optimus. Boa sorte no seu curso de pós-graduação, no trabalho da CDRA e é isso.
A: Muito obrigado! Eu também torço aí pelo projeto. Que se realmente vocês conseguirem colocar um tijolo nesse projeto que é gigantesco, vai ser muito bom para todo mundo porque conseguir unificar dados de uma linguagem única é algo gigantesco! Vai ser muito bom para todo mundo porque conseguir unificar dados de uma linguagem única é algo que realmente pode facilitar para a gente.
M: Que bom! Que bom que o senhor gostou da ideia. Fico muito feliz com isso! Espetáculo! Um abração!
A: Tchau! [fim da gravação]
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