Transcrição da entrevista do Dr. Roberto Almeida para o Telix
Entrevistadora: Marina Ghisi (M)
Convidado: Roberto Almeida (R)
M: Boa tarde, tudo bem? Hoje nós vamos ver como a medicina do estilo de vida pode melhorar a sua vida, através de uma entrevista com o doutor Roberto Almeida. A gente também vai falar um pouquinho do projeto que nós estamos desenvolvendo aqui no TELIX. O doutor Roberto Almeida é médico, ele é professor da Faculdade de Medicina da UNILA, ele é coordenador da UTI do Hospital Municipal de Foz do Iguaçu e além disso, ele é diretor técnico de uma startup na área de saúde, a MEVIDA. Mas mais do que isso, doutor Roberto é uma grande inspiração pessoalmente pra mim e eu sinceramente acredito que se vocês assistirem essa entrevista, isso pode ser uma grande inspiração pra vocês também. Vamos lá então! doutor Roberto, seja bem-vindo!
R: Oi!
M: Vou fazer uma pergunta. Eu ou alguém que está nos assistindo deveria procurar um médico de estilo de vida se ficasse doente?
R: É interessante, Marina. Eu queria agradecer para você a oportunidade e falar que é importante a gente entender que a medicina de estilo de vida é uma abordagem complementar hoje em dia, a gente pode dizer assim, integrada com a medicina de uma maneira geral. Porque quando você fica doente agudamente, por exemplo, você precisa às vezes fazer alguns exames, alguns diagnósticos para tratar aquela doença de uma maneira mais aguda. Mas a medicina do estilo de vida vai te auxiliar, complementar, por exemplo, se você fizer o diagnóstico de uma doença crônica que você vai conviver com ela. Como diabetes, hipertensão e algumas doenças cardíacas. Então, tem várias patologias que vão precisar de um acompanhamento para fazer uma mudança do estilo de vida. Como a intervenção médica, vamos dizer assim. Então essa é a grande diferença, de um tratamento agudo de um tratamento crônico. Acho que se nessa entrevista a gente conseguir que as pessoas entendam isso, vai ser muito legal porque vai permitir às pessoas entenderem que ela pode ter o médico da doença aguda. O médico que vai fazer o tratamento de qualquer
problema, a gente vai dar alguns exemplos depois, mas ela vai também precisar entender de um acompanhamento, de uma equipe. Na realidade, na medicina do estilo de vida a gente trabalha muito com equipes de saúde para mudança de hábito, então é necessário em algum momento todos nós pensarmos em um acompanhamento de medicina do estilo de vida. Hoje em dia, com as doenças crônicas sendo a principal causa de doença nos países, quase todos os países a principal causa de adoecimento e morte são as doenças crônicas não transmissíveis. Então é por aí que a gente precisa entender o papel da medicina de estilo de vida.
M: Entendi, doutor. Então deixa eu ver se eu entendi da maneira correta: então a medicina de estilo de vida é mais indicada para pessoas que têm doenças crônicas, como por exemplo, que tipo de doenças crônicas?
R: Bom, ela é indicada para todas as pessoas porque ela funciona como se fosse um processo de manter a saúde. Então vamos começar por aí. Antes de ter a doença crônica, se a pessoa não tem nenhuma doença, uma pessoa jovem de 30, 40 anos que ainda não teve nenhuma doença, mas ela tem alguns estilos de vida. Eu estava vendo uma pesquisa agora feita com adolescentes que mostra que mais de 70% dos adolescentes no Brasil não praticam atividade física. Então eles já estão dentro da medicina do estilo de vida fazendo um comportamento, que é o hábito de não praticar atividade física regular, isso já está sendo fator de risco para doenças. Então ele vai ao longo do tempo ter um risco maior de desenvolvimento de doenças. Então de uma maneira geral começa avaliando, fazendo um diagnóstico do estilo de vida, da alimentação, do exercício, do sono, vários fatores e aí e a partir daí vai começando a se fazer os ajustes. Essa é a primeira abordagem e depois começam as doenças crônicas, então a pessoa tem diabetes, hipertensão arterial, tem doenças cardiovasculares, como já teve uma doença coronariana ou uma doença de insuficiência cardíaca ou já teve um AVC. Então aí começam a ser já doenças em estágios mais avançados, doenças crônicas, que ela pode se beneficiar da mudança de estilo de vida porque daí vai ajudar a controlar melhor, né? Essas doenças ficam melhor controladas com a mudança de estilo de vida.
M: Entendi. Então, como que o médico que usa os conceitos de medicina do estilo de vida decide qual tratamento descrever para esses pacientes, então, de doenças crônicas? Porque a gente entende, então, esses pacientes de doenças crônicas vão se beneficiar mais de consultar o médico de estilo de vida. Por que isso vai beneficiar mais eles? E como que o médico decide o que vai prescrever para a pessoa fazer?
R: Então como que funciona, né? Nessa avaliação, por exemplo, quando você faz uma avaliação do médico da medicina de estilo de vida, ele vai abordar o que a gente chama de pilares do estilo de vida: alimentação, exercício, sono, o manejo do estresse, os relacionamentos e o controle dos álcool, drogas e tabaco. Então quando você faz essa análise da pessoa, você pode já começar a orientar. Se a pessoa, por exemplo, ela é hipertensa, ela já vai ter um ajuste conforme a sua condição dos hábitos do estilo de vida e também em relação às suas patologias. E como que a gente escolhe essas orientações?
Primeiro é interessante notar que a maior parte das orientações da medicina do estilo de vida vão ser assim como se fossem universais, né? Do ponto de vista que vale para as pessoas que todas as doenças crônicas: diabético, hipertenso. Então ele vai ter uma recomendação geral de mudar os hábitos, como por exemplo, começar a fazer atividade física é uma coisa geral. Qual que é a adaptação específica? É analisar as condições do paciente, cada paciente às vezes tem uma condição que exige, por exemplo, se já tem doenças cardíacas: uma monitorização diferente. Então a gente vai fazendo as adaptações, mas geralmente são orientações gerais.
E aí que está o grande desafio da medicina estilo de vida, porque muitas pessoas já sabem disso, que elas precisam se organizar para ter um hábito com o návis. O problema é que sem o acompanhamento não tem essa, vamos dizer assim, esse ajuste fino do que cada um precisa fazer e como que vai fazer esse processo ao longo do tempo.
M: Entendi, doutor. Então, por exemplo, no caso de um paciente que tenha dores na coluna, se ele for um médico de estilo de vida, pode ser que o médico prescreva medicamento e cirurgia para ele ou não?
R: Como eu falei, é possível que quando vem com uma queixa específica como essa, o médico vai conduzir a entrevista e a anamnese e a investigação de uma maneira semelhante ao médico que faz clínica geral, por exemplo. E sem dúvida ele pode prescrever medicamentos, né? Numa fase aguda, ele pode recomendar cirurgia se ele achar que pelos exames que ele identifica tem alguma indicação de acompanhamento ou com ortopedista ou com neurocirurgião por conta de alguma hérnia de disco, por exemplo, que tenha na coluna. Então é possível que ele recomende também, só que o que vai ser o diferencial é que ele vai começar já com essa pessoa um trabalho simultâneo de trabalhar a mudança dos hábitos, porque provavelmente há coisas para serem feitas em termos de mudança nas causas desses problemas que estão afetando a coluna da pessoa. Então dependendo da gravidade: sim, o médico pode também prescrever remédios e cirurgia, orientar pelo menos.
M: Entendi. Doutor, conta pra gente, como que a medicina do estilo de vida entrou na sua vida?
R: Ah, isso é muito interessante. Eu sou médico intensivista, que eu trabalho em UTI. Então o que acontece? Eu recebo diariamente no meu trabalho pacientes em estágios avançados dessas doenças crônicas, diabéticos, infartados, com AVC, com doenças como câncer e tudo. Então a gente começa a ver que esses pacientes chegam nessa fase, às vezes, avançada de doença ou de idade e a gente conversa com familiares e com os próprios pacientes e eles têm uma longa história de hábitos que eles ou não sabiam ou não conseguiam um apoio para mudança. E aí a gente vê que nesse momento é difícil de fazer mudanças porque as coisas já estão avançadas. Então eu comecei em 2014 quando eu já estava com 20 anos de formado, esse ano eu estou com 30 anos de formado em 2024. Em 2014 eu comecei a dar aula na UNILA que é na Universidade Federal da Integração Latino-Americana em Foz do Iguaçu e eu ia dar aula no curso de medicina e eu estava querendo, o que tem mais de novidade na área da saúde, na área da medicina? E eu encontrei essa ideia da medicina do estilo de vida. E ela foi como se fosse uma explicação para a gente tentar melhorar esse resultado dos pacientes que a gente recebe na UTI, porque a gente consegue visualizar uma de mudança desse cenário. Tanto é que eu fui num congresso lá nos Estados Unidos em 2014 e lá eu encontrei uma imagem, até que se você puder compartilhar aí a tela, eu gostaria de mostrar, que eu achei muito significativa, essa imagem dos médicos trabalhando, como se representado numa analogia, a que os médicos enxugando a água é tratando os doentes que chegam no hospital. E aquela torneira atrás são comportamentos e estilos de vida que mantém esse fluxo de pacientes que chegam na minha UTI, que chegam nos hospitais, que chegam no ponto de socorro.
E são as pessoas que estão agudamente adoecendo ao longo desse processo. Elas já vêm com a doença crônica, mas quando elas internam é porque ocorreu algum evento mais agudo. E aí, neste congresso, eu aprendi exatamente essa ideia de que a gente precisa atender essa situação das pessoas que chegam, mas aquela torneira atrás precisa ser desligada. E essa é a revolução que a medicina do estilo de vida propõe a fazer ajudar tanto os profissionais da saúde quanto a população, entender que a gente precisa buscar essa causa das doenças, entendeu? A causa dos problemas de saúde. Então isso pra mim foi, quando eu vi isso: eu falei é isso que eu quero trabalhar daqui pra frente. Já estou com 10 anos hoje trabalhando com isso e me sinto muito motivado porque a gente consegue, quando a gente consegue trabalhar com algumas pessoas e os pacientes entenderem isso, as mudanças e os resultados são muito bons.
M: Legal, doutor, maravilha. Então o seu negócio é evitar que as pessoas cheguem na UTI, evitar que tenham que passar por cirurgia e viver essa experiência muito difícil, que é essa experiência de UTI, de hospital. Muito legal! Eu queria perguntar para vocês que estão nos assistindo, para vocês postarem nos comentários se vocês já conheciam esse conceito de medicina de estilo de vida ou não e o que vocês acharam dele. A primeira vez que eu ouvi esse conceito de medicina de estilo de vida foi justamente através do Dr. Roberto, ele que trouxe esse conceito para a minha vida pessoal, para a minha vida profissional também. A gente acabou tentando implementar isso no local de trabalho e tal, e foi uma coisa muito interessante, que trouxe muita esperança de qualidade de vida para as pessoas que convivem comigo. Então, foi muito legal! Obrigada, doutor Roberto, por ter trazido a medicina de estilo de vida para a minha vida! Existe uma plataforma em que os médicos consultam para decidir entre indicar um tratamento convencional ou baseado em estilo de vida? Existe alguma?
R: Hoje, uma plataforma específica para isso não existe, mas o que a gente tem é que existem as plataformas, vamos dizer assim. O PubMed, o Google acadêmico também, que são locais onde existem artigos científicos sobre os estudos que são feitos de tratamentos, intervenções medicamentosas, cirúrgicas e as intervenções de estilo de vida. Então quando a gente está diante de uma situação, a gente sempre busca o que a gente chama das “evidências científicas”. O que as últimas pesquisas mostram sobre o assunto? Então essa plataforma do PubMed, que são as publicações médicas, elas têm informações que estão dispostas lá para a gente consultar as revistas, as pesquisas que foram feitas. E aí o médico consegue, dependendo dessa situação, ter então uma orientação bem atualizada sobre o que prescrever. Essa é uma forma de buscar as informações. Mas também existe, dentro do Colégio Brasileiro de Medicina Estilo e Vida, do Colégio Americano de Medicina Estilo e Vida, muitas recomendações que já estão sendo trabalhadas pelas diferentes pilares. Então, recomendações para a alimentação, recomendações para exercício físico, recomendações para o sono, para o controle e manejo do estresse. Então, cada um daqueles pilares que existem, a gente tem muitas recomendações muito boas. Então basicamente é isso, a gente tem essa fonte geral das pesquisas e nossas instituições da medicina do estilo de vida também trazem muita boa referência.
M: Entendi, doutor. Por isso então que a gente quando vai no médico, a maior parte dos médicos já faz recomendação sobre estilo de vida, né? Eles mandam a gente comer menos, perder peso, fazer exercício físico, então esse conhecimento da medicina do estilo de vida, ela está incorporada nas plataformas que os médicos consultam para sugerir medicamentos. E por que o doutor acha que a adesão a essa mudança de estilo de vida é tão baixa? Por que o médico manda a gente fazer exercício e tomar remédio e a gente acaba só tomando remédio e não fazendo exercício, por exemplo?
M: Tem muitos fatores, mas é interessante a gente falar sobre isso porque primeiro existe o que a gente poderia falar que os hábitos que as pessoas têm, os maus hábitos, eles têm um processo de enraizamento, ficam arraigados. É difícil mudar hábitos depois de muitos anos. Então, por mais que a pessoa saiba que faz mal ou que não é o ideal, ela tem uma adaptação, isso é um fator. Existem outros fatores, por exemplo, o ambiente que ela vive, seja o ambiente social das companhias, seja o ambiente físico das faltas de condições, por exemplo. Quando a gente fala de alimentação saudável, às vezes a pessoa mora num lugar que não tem quase acesso a alimentos saudáveis, eles chamam isso de desertos de comida, então a pessoa só tem alimentos industrializados disponíveis, mais acessíveis economicamente. Então, acaba que é um fator que impede muitas mudanças. Às vezes, falta ambientes, nessa pesquisa que eu estava lendo hoje sobre os adolescentes, muitos relatam que não têm ambientes adequados para a prática de esportes, para atividades físicas. Então, você pode faltar estímulos ambientes das políticas públicas dos municípios. Além disso, posso colocar mais fatores que acho que vale a pena a gente entender por que é tão difícil mudar. Às vezes tem problemas psicológicos, a pessoa tem problemas de depressão, ansiedade, e aí quando ela vai fazer mudanças, isso vai mexer também com o lado emocional. Então, a gente vai dizer que tem fatores psicológicos, fatores de hábito, fatores sociais, fatores ambientais que estão, vamos dizer assim, contra essa mudança. Então, por isso que é muito difícil. As pessoas, os médicos orientam, as nutricionistas, o educador físico, todo mundo tá falando o que precisa fazer e as pessoas encontram muita dificuldade.
M: Eu vou compartilhar uma experiência minha. Eu tenho uma filhinha e lá no prédio que eu moro, as crianças não descem para brincar lá embaixo, não descem. Então, no verão até tem piscina, e aí todo mundo vai na piscina, então no verão rola uma interação social com atividade física no prédio, mas no inverno não. No inverno as crianças ficam no celular, ficam nas suas casas e não tem esse ambiente que ela possa se exercitar dentro do prédio, dentro de casa. E aí, para o pai que trabalha, para uma mãe que trabalha o dia inteiro, é difícil, é custoso fazer esse esforço de levar a criança para um outro ambiente para que ela possa fazer o exercício que ela precisa, né? Porque a escola, quando a criança é mais nova, até tem bastante oportunidade de exercício, mas vai ficando mais velha, a escola é um local de aprendizagem mesmo, né? O tempo de cada atividade física é muito pequeno, por exemplo, tem uma hora de aula de educação física por semana, que não é nem perto do necessário. Então, isso é muito frustrante. Por outro lado, eu como pessoa também, eu percebo que eu deveria ter hábitos alimentares mais saudáveis e eu tenho muita dificuldade em adotar esses, me dá muita frustração. Eu vou perguntar para vocês que estão assistindo aqui, vou pedir para vocês escreverem escrever nos comentários de vocês. Vocês enfrentam alguma dificuldade para adotar hábitos saudáveis? Como que vocês se sentem a respeito? E enquanto vocês escrevem, vou pedir para vocês escreverem mesmo, porque é uma pergunta importante, vou pedir para o Dr. Roberto também, como que o doutor como médico se sente em relação a essa dificuldade das pessoas de mudarem seus hábitos?
R: É, a gente, como você falou, a gente se sente, eu me sinto desafiado, né? Porque a gente sabe que a gente, quando vai atender uma pessoa, a gente na hora que a gente faz a entrevista que a gente começa a conhecer a realidade da pessoa, a gente começa a perceber as dificuldades que ela vai enfrentar, que ela tem. Então, é um desafio, eu me sinto desafiado, porque a gente precisa descobrir com aquela pessoa, e cada pessoa vai ser uma estratégia. A gente descobrir uma forma de descobrir uma maneira motivadora. Por isso que existe uma ferramenta que a gente utiliza, chamada “entrevista motivacional”, que é uma busca de entender o que para essa pessoa vai fazer a motivação dela dar o clique, de ela começar a se dedicar a essa transformação. Então existe um processo, uma escala de avaliação que a gente vê para fazer as mudanças, que eu acho muito interessante, que a pessoa pode estar para certos hábitos, vamos dizer assim, mudança alimentar ou exercício físico, vamos dar esses exemplos. Por exemplo, para a atividade física, ela está numa fase que a gente chama de pré-contemplação. É uma fase que ela não quer nem pensar no assunto, não incomoda. E, às vezes para a alimentação, ela já está incomodada, ela já está frustrada, ela já está numa fase preocupada com isso, querendo fazer alguma coisa. Então, ela já está numa fase de contemplação da mudança. E aí, é necessário para cada uma dessas fases ter estratégias de conversa, de entrevista motivacional, para ela ir para as fases seguintes de preparação e de mudança efetivamente. Então, é um desafio. E é um desafio que não se encaixa muito bem, e aí é talvez o ponto mais frustrante do profissional da saúde e do estilo de vida, é que os convênios e a maneira de a gente atender as pessoas, prevê uma consulta muito rápida que é uma consulta que a gente escolta os problemas e pede os exames e dá as receitas. Isso é rapidinho, mas para uma mudança de estilo de vida, para você descobrir essas fases, para você entender, seria uma consulta mais demorada. E geralmente isso não é contemplado hoje nos planos de saúde e tudo. Então, na medicina de vida, a gente tem procurado descobrir estratégias de fazer isso. Uma das que está dando mais certo são consultas coletivas, incrível que pareça, agendar consultas de pessoas com problemas semelhantes e atender essas pessoas em grupo. Eu fui num congresso e a gente viu esse debate lá no exterior, aqui no Brasil a gente já está começando a fazer algumas experiências e é muito interessante.
M: Nossa, seria parecido com os alcoólicos anônimos, esse tipo de conceito? Os vigilantes do peso, é mais ou menos esse conceito?
R: Vamos dizer assim, considera que tem o valor desse trabalho, nesses dois exemplos que você deu, mas é como é uma consulta do profissional de saúde porque nesses aí geralmente é o próprio grupo que se reúne, das pessoas que têm os problemas semelhantes. É semelhante porque tem essas pessoas com a mesma demanda, vamos dizer assim, o mesmo objetivo, mas vai um profissional ou mais de um profissional ter encontros regulares com essa turma. E aí ele trabalha explicações e dúvidas, aí as pessoas compartilham suas experiências. Então isso se torna uma forma de trabalhar diferente, mas é como se fosse, como eu falei, uma consulta coletiva porque geralmente as consultas são individuais. Normalmente nessa estratégia faz-se uma consulta individual e aí se convida a pessoa “Você quer participar do grupo?” e a pessoa diz que quer participar. Daí depois que você fez várias consultas individuais, você faz uma consulta em grupo. É bem interessante.
M: Que legal, que joia, doutor. E muito obrigada vocês que compartilharam com a gente aqui a experiência de vocês sobre essas dificuldades de aderir a hábitos saudáveis. Doutor, além dessa questão da reunião em grupo, que outras ferramentas e que outros recursos médicos de estilo de vida têm e recomendam para aumentar essa adesão aos estilos de vida mais saudáveis?
R: Olha, a gente tem várias ferramentas. Uma das que geralmente se usa, por exemplo, quando se vai estabelecer metas de mudança é aquela história dos pequenos passos, que a gente chama de “passos de bebê” ou “baby steps”, que você começar qualquer processo de mudança, ser com metas específicas, mensuráveis, “metas smart” também. É uma ferramenta que às vezes a pessoa não tem essa noção, ela quer mudar, ela está muito motivada às vezes porque deu algum clique e ela começa a mudança e tenta fazer algumas mudanças. Mas ela às vezes se coloca num desafio muito grande que gera uma frustração, e essa frustração vai gerar o abandono daquele processo de mudança. Então, o início gradativo e o acompanhamento dessas metas é uma coisa que a gente faz junto com as pessoas quando a gente atende. Isso ajuda muito. Além disso, se você tem hoje muito estudo mostrando que se você faz um acompanhamento ou um monitoramento, e talvez isso com as tecnologias, a gente vai ter cada vez mais aparelhos medindo os passos e a gente ter o acompanhamento. Toda vez que a gente mede as mudanças, a gente meio que se motiva. E se você tiver que meio que, não é prestar contas, mas ter alguém te acompanhando. “Olha, como é que foi essa semana?” “Eu vi que você não deu tantos passos”. Isso geralmente cria uma relação da pessoa sentir que está sendo cuidada, que está em uma equipe com a equipe da saúde, entendeu? Essas são estratégias interessantes. E como a gente já tinha falado, os grupos de apoio, de suporte também porque um ajuda o outro, um puxa o outro quando não está tão motivado, então isso ajuda muito. Então nessa linha tem algumas ferramentas muito legais.
M: Que jóia, doutor! Mudando um pouquinho de assunto, a gente aqui no TELIX está desenvolvendo um protocolo para facilitar a troca e comparação de informações na área da saúde. Posso te fazer uma pergunta sobre alguns parâmetros que a gente pensa em colocar nas tabelas desse protocolo?
R:Sim, vamos lá!
M: Legal! Um dos parâmetros que a gente pretende incluir é a eficácia do tratamento e a gente vê a eficácia relacionada a prazos determinados, né? A eficácia em um dia, em cinco dias, em dois meses, em um ano, né? É fácil para o médico ou gestor de saúde obter e comparar dados de eficácia de tratamento, tanto de tratamentos médicos como de tratamentos não médicos (acupuntura, odontológicos, fisioterápicos ou até esses tratamentos de estilo de vida que o doutor comentou)?
R: Olha, quando a gente, como eu estava falando para vocês, a gente não é… a primeira resposta genérica assim.. não é fácil porque na realidade, como eu falei: dependendo de cada situação, cada tratamento, você tem diferentes opções hoje de tratamento, medicamentos, e eles… cada estudo, às vezes mostram estudos comparativos, e então a gente começa a ter estudos de eficácia de medicamentos, Por exemplo. Existem alguns estudos dessa maneira. Então você compara a pessoa tomando o remédio A, remédio B e um placebo, nenhum efeito de medicamento e aí você consegue ter resultados assim. Mas isso é muito utilizado na questão dos medicamentos. Quando você cai lá no contexto, por exemplo, de tratamentos não médicos, não medicamentosos, como terapias, como acupuntura, outras técnicas. é mais difícil também porque aí já não tem como comparar uma coisa com outra, Não tem muitos estudos, porque quem financia esses estudos dos medicamentos é a indústria farmacêutica porque ela está lá buscando uma boa droga para ter um bom resultado, uma boa eficácia. Então tem mais disso. Na área de cirurgia, que eu pulei essa parte, mas também tem estudos, né? Técnicas cirúrgicas, cirurgias abertas, cirurgias menos invasivas, tem muitos estudos comparando. Mas quando se chega nas práticas que estão não medicamentosas, já é mais difícil ter muitos estudos. E na medicina do estilo de vida, com essas intervenções de mudança de alimentação, exercício, existem estudos muito interessantes que já começam a ser feitos comparando tratamento. Por exemplo, de depressão com medicamento ou com atividade física, ambos tendo um acompanhamento psicoterápico, por exemplo. Então, você pega um grupo fazendo terapia e tomando remédio, e outro grupo fazendo terapia e orientando-os a ter feito uma atividade física com qualidade de acompanhamento. Já existem resultados, então começa a ser comparado isso, mas não são tanto quanto os medicamentos. Então eu acho que isso dá um panorama para vocês aí de como que está a situação nossa.
M: Legal, doutor. Então esse dado de eficácia parece importante para o senhor, é um dado válido?
R: Sim, a gente tem tanto a eficácia que é uma coisa que a gente estuda na medicina chama-se a “diferença de eficácia e eficiência” porque um medicamento pode ser eficaz. Vou dar um exemplo hipotético, só para ficar fácil de explicar. Você toma esse remédio de duas em duas horas que ele é extremamente eficaz, mas aí a pessoa “fala tem que tomar de duas em duas horas?” “É, de duas em duas horas”. Ele não é eficiente. Ele é eficaz, mas não é eficiente. Porque ninguém vai tomar de duas em duas horas. Agora, se você fala, “olha, esse remédio, ele é muito eficaz e tomando uma vez ao dia você vai ter o resultado”. Nossa, esse remédio vai ser eficaz e eficiente. Então isso para a gente muitas vezes, tanto é que muitas coisas que existem no mercado, novas drogas, novos medicamentos são feitos em cima dessa ideia de eficiência porque eles vão garantir a adesão ao tratamento. Que aí toma uma vez ao dia, “poxa, aí ficou fácil, agora eu tomo”. Então, muito dos medicamentos novos às vezes têm essa característica.
M: Espetáculo, doutor! Outros parâmetros que a gente pensa em utilizar na plataforma do TELIX são “risco” e “efeitos colaterais". Tem parâmetros quantitativos para comparar risco e efeito colateral de tratamento?
R: Olha, quando é feito o lançamento de uma droga nova, um medicamento, sempre tem os estudos dos riscos, efeitos colaterais e isso tem estatísticas. Eles procuram fazer esse trabalho sempre. Essas são aquelas famosas letrinhas miúdas da bula porque a bula tem para ser lançada no mercado, é uma exigência. Aqui no Brasil é a Anvisa, lá nos Estados Unidos é a FDA, que é a Food Drug Administration, que é um controle que existe para os critérios de segurança das drogas, dos procedimentos e tudo. Então isso existe. A gente normalmente quando o médico vai prescrever tem uma característica que é a experiência do médico com aquele remédio, novos medicamentos. Às vezes ele tem que consultar porque isso varia de medicamento para medicamento, mas à medida que o médico tem experiência ele já sabe que aquele remédio é mais seguro, nunca deu problema. Tem poucos problemas. Então é mais ou menos assim. Tabelas a gente encontra nos nossos livros médicos, a gente tem muitas referências, geralmente tem esse item como um item para ser consultado.
M: Interessante, legal. Mas dos não médicos nada também?
R: Dos não médicos é mais difícil porque como a gente falou, as pesquisas nessas questões não são. Nos casos das intervenções da medicina de estilo de vida, uma das grandes questões é que geralmente as recomendações de mudança de estilo de vida, elas não têm contraindicação. Você vai poder só fazer, por exemplo, atividade física, você vai poder prescrever atividade física para todos os pacientes, claro que você vai estudar algum outro que tenha alguma limitação mecânica, motora ou alguma limitação, por exemplo, cardíaca, que você vai fazer ajustes, mas não é contraindicado, entende? Então isso é interessante, porque em tese a hipnose é um medicamento, se fosse comparar, essa ideia de tratar o estilo de vida como uma intervenção é uma coisa bem segura e legal.
M: Legal! Massa! Doutor, outra coisa que a gente pensou em colocar é o bem-estar geral do paciente, né? Acho que para a gente seria um parâmetro?
R: Sim, a gente geralmente procura fazer o que a gente chama de questionários de qualidade de vida, questionários de bem-estar. Existem alguns questionários que são padronizados para fazer as pesquisas e na medicina do estilo de vida é uma ferramenta que às vezes o profissional pode usar para fazer como se fosse, sabe aquela fotografia antes e depois? A gente tem, inclusive é uma das coisas que a gente está desenvolvendo na MEVIDA, é colocar esses questionários disponíveis em uma plataforma para fazer essa medida do bem-estar. Porque o bem-estar pode ser uma coisa objetiva ou subjetiva, mas normalmente, quando a gente fala de bem-estar, tem um bem-estar subjetivo. Mas quando se fala dos diferentes aspectos, por exemplo, o sono, a qualidade do sono, você tem questionários específicos para a pessoa responder e ela tem como se fosse um diagnóstico do sono dela. E aí a gente propor mudanças e depois de um certo tempo ela fazer uma nova avaliação e ela vê o progresso dela. E ela, claro, além do bem-estar subjetivo, que ela vai estar se sentindo melhor, ter essa medida. Entendeu?
M: Então isso é bem legal e isso existe em várias ferramentas nesse sentido. E essas ferramentas, elas são padronizadas e são internacionalmente aceitas? No sentido assim, por exemplo, se essa ferramenta for adotada por um cardiologista e a mesma ferramenta for adotada por um médico de outra especialidade, todos entendem essa linguagem e aceitam essa ferramenta como válida e também internacionalmente, tipo, entre países é a mesma ferramenta, são os mesmos números, é aceito internacionalmente ou não? Ou cada profissional usa o que acha melhor e não são, não é um parâmetro comparável tanto de maneira interdisciplinar como internacional?
R: Então vamos começar pela questão internacional, que quando você tem um instrumento de uma escala, um instrumento de medida, ele geralmente, se for questionários que são feitos, existe toda uma fundamentação científica e são feitos testes e aí ele fica validado por uma determinada população, por exemplo, americana. Se a gente vai fazer aqui no Brasil, a gente não pode simplesmente traduzir e aplicar, a gente tem que fazer uma validação nacional desse. existe um trabalho de procurar fazer análise do ponto de vista da linguagem e testar se as pessoas estão entendendo bem o que está se perguntando. Então existe a necessidade de fazer uma validação de país para país conforme o questionário. Quanto aos profissionais, aí vem um grande ponto que eu acho importante que é o fato de você ter médicos, cardiologistas, dentro do que a gente poderia dizer assim, tem duas cabeças: a população, já que esse aí é uma live que a gente está fazendo para pessoas em geral, então é importante que as pessoas tenham, assim, tem médicos que estão trabalhando com o foco no tratamento da doença, a visão dele, o treinamento dele é para diagnosticar e tratar doenças. e existem esses médicos cada vez mais que estão entendendo essa visão da medicina do estilo de vida que vê a pessoa como um todo e ele quer ver o bem-estar, quer ver outras características. Então, quando você vai ao médico, você vai ter que saber se esse médico, ele é só de diagnóstico de tratamento da doença, ele não está aberto e não vai usar e não se interessa muito por essas questões. E existem os médicos que são mesmo de cardiologista, endocrinologista, vários profissionais que já estão se interessando por essa visão. Então é isso que a gente tem que ver. Então esses que se interessarem vão compartilhar as ferramentas.
M: Entendi. Doutor, agora que tal a gente falar um pouquinho sobre a sua startup, a MEVIDA, que tem tudo a ver com esse assunto de ferramentas de medição de [inaudível]. O que o senhor gostaria de contar? O que o senhor gostaria que o público soubesse aqui sobre a MEVIDA?
R: Olha, a gente começou durante a pandemia. A pandemia trouxe muitas situações desafiadoras, tanto na minha área da terapia intensiva, quanto ela trouxe uma perspectiva de as pessoas se alterou. E nessa discussão, uma das coisas que aconteceu na medicina foi a mudança da telemedicina. Que foi a questão de você poder começar a fazer as consultas, as pessoas em casa, como a gente está fazendo essa live, nós estamos conversando aqui. Então, nesse contexto, os estudantes de medicina da UNILA estavam fazendo apoio ao atendimento das pessoas com Covid. E eles já tinham passado pela disciplina de medicina do estilo de vida e aí surgiu uma ideia de a gente falar “olha, professor, o que você acha de a gente discutir, a gente sempre incentivando essa ideia de promover a medicina do estilo de vida, de começar a integrar a telemedicina com a medicina do estilo de vida”. E aí a MEVIDA nasceu dessa primeira ideia, que seria a ideia de a gente organizar porque o atendimento da medicina do estilo de vida, como a gente estava conversando, ele é baseado num diagnóstico do comportamento, de uma conversa um pouco mais detalhada, e que ela é perfeitamente adequada para fazer num ambiente de telemedicina. Diferente de, às vezes, algum procedimento que você tem que examinar, olhar, tudo. Mas a gente pode pedir os exames, a gente pode fazer uma série de coisas relacionadas com a medicina do estilo de vida. Então essa foi a primeira ideia, só que quando a gente está evoluindo, a MEVIDA nasceu com esse primeiro objetivo, ela continua tendo essa abordagem, mas a gente percebeu que as pessoas que trabalham com medicina do estilo de vida, tem muita, como a gente estava conversando, a utilização de ferramentas, questionários, acompanhamentos, ferramentas de coaching, que é esse treinamento da mudança de hábito, que são necessários ser utilizados. E são muitas informações e que organizar todas essas informações não era fácil, tanto para o lado da pessoa que está sendo atendida, quanto do médico, do profissional que está atendendo. Então a MEVIDA deu uma outra visão que é… passou a desenvolver uma plataforma chamada “MEVIDA Conecta" que é uma plataforma de medicina do estilo de vida para fazer o atendimento com todas essas ferramentas para que crie-se como se fosse um ambiente onde eu vou cuidar da minha saúde. Então eu entro na plataforma, eu tenho a possibilidade de conversar com o médico, fazer os testes, ver os questionários, fazer um monte de medidas e estudar os assuntos que eu preciso fazer mudança. Então essa está sendo a nossa fase agora. A gente está investindo mais nisso porque na realidade a gente pode dizer que a telemedicina hoje já não é um diferencial, já é uma coisa que todo mundo tem essa característica. O que a gente quer fazer o diferencial da MEVIDA agora é em relação a ajudar. A gente está em uma fase... A gente já fez uma versão protótipo, agora a gente já está desenvolvendo a primeira versão que a gente está para lançar essa versão essencial da MEVIDA Connect, agora em setembro. E a gente quer fazer as novas atualizações para colocá-la de uma maneira mais completa. Então, esse é o momento que a gente está. E a gente está muito feliz porque vê que é uma necessidade mesmo ter esse tipo de ferramenta.
M: Parabéns, doutor! Muito legal isso! Inclusive, essa questão da autoajuda, da pessoa poder entrar e obter os dados e pesquisar no ritmo dela, é uma tendência na educação, é uma tendência em outros setores. E do meu ponto de vista, é uma tendência que o setor de saúde pode se beneficiar muito disso. Parabéns pela iniciativa! Estou torcendo em setembro então.
R: Mas hoje se alguém quiser já consegue acessar o site da MEVIDA. A gente, nesse momento, como a gente direcionou para esse foco na plataforma, hoje o acesso da plataforma está para os profissionais, e a gente está... Essa questão da teleconsulta, os profissionais que estão trabalhando com essa ferramenta estão podendo atender, entende? Mas a gente tinha uma ideia inicial de trabalhar como se fosse uma clínica online, nós estamos com essa ideia de que a pessoa poderia lá marcar a consulta. Nós temos alguns colegas que estão trabalhando e eles poderiam agendar uma consulta de telemedicina. A gente, essa ideia ainda vai ser trabalhada ainda, mas o foco nosso está na plataforma, então os médicos que estão atendendo, os nossos parceiros que estão já usando a nossa ferramenta nessa versão inicial, eles já podem atender as pessoas.
M: Entendi, legal. Mas essa do CT é para o usuário final ou é para os médicos também?
R: A versão essencial ainda é para os médicos e essa que a pessoa vai entrar é uma versão que vai ser mais completa mais adiante.
M: Ah, entendi, legal. Legal. Doutor, das suas diversas atividades profissionais, qual que é a mais motivadora para o senhor?
M: Olha, eu estou numa fase, como eu estava falando no começo, eu estou com 30 anos de medicina, de formado, esse ano completou. E aí, na medicina, os desafios da medicina, quando eu estava lá em 2024, estava com 20 anos, eu já estava começando a despertar a necessidade de fazer mudanças mais sistêmicas. Uma das estratégias que eu achei interessante é a educação. Então, hoje, uma das coisas que mais me motivA é esse contato com os futuros médicos, esse processo deles descobrirem a parte profissional da medicina. Porque eu pego eles no terceiro, quarto ano, e que eles saíram daqueles dois anos iniciais, que eles estão conhecendo a anatomia, a fisiologia, os conceitos mais básicos, e eu começo a trabalhar com eles no momento que eles estão começando a atender os pacientes, fazer plantões, então eles começam a se sentir já dentro da profissão. E aí que surgem muitos desafios e aí a gente ter a oportunidade de compartilhar as experiências pessoais, as recomendações, as orientações, isso tem sido muito gratificante. Trabalhar com eles essa perspectiva e poder levar para eles essas novas ideias. Porque aí a gente começa a ver a mudança sistêmica que eu estava falando, que é mudar o sistema de saúde. A medicina de estilo de vida é uma das estratégias, porque se a gente continuar fazendo esse mesmo processo de só atender as doenças, isso não vai mudar nada, vai ficar sempre assim. Então com esses médicos, e eu já tenho visto isso e sabe o que é legal? Nós já estamos na turma 10, então já tivemos três turmas que se formaram, eles caminhando já com essas ideias da medicina de estilo de vida, buscando trabalhar com esses conceitos, então eu fico muito feliz por isso.
M: Nossa, que legal, doutor! Muito legal! Vou perguntar para vocês, que estão aqui firmes ao nosso lado, e vocês, o que motivou vocês? Enquanto vocês escrevem, eu me sinto muito insegura em relação ao que fazer, fragilizadA até. E esse trabalho que a gente está desenvolvendo no TELIX que é aplicar conceitos de telecomunicações e engenharia na área da saúde, ele é muito motivador para mim porque justamente nesse momento em que a gente está fragilizado. Eu sou uma pessoa muito técnica, gosto muito de dados, de informações, então ter acesso a dados de qualidade apresentados de maneira fácil é uma coisa que me ajudaria a me sentir mais segura. E poder propiciar isso para mais gente é o que me motiva pessoalmente e eu sei que é o que motiva a equipe toda do TELIX que que estou dando o tênis e que está trabalhando nesse novo projeto, então compartilhar essa questão aí com vocês. Doutor, que recomendações de saúde o doutor daria para as pessoas que estão nos assistindo?
R: Bom, baseado na medicina do estilo de vida, eu acho que a gente começa hoje em dia, eu falo assim: existem três pilares iniciais é a pessoa rever essa questão da alimentação, exercício e sono como se fosse a base da disposição, da energia que cada um tem no dia a dia. Então, eu sei que não é fácil porque cada um tem uma rotina de vida, mas se a pessoa começar a entender e fazer pequenas mudanças, pequenos ajustes nesses três elementos da alimentação, do exercício e do sono, isso transforma a energia, a vitalidade da pessoa. E aí uma coisa que é interessante que eu quero compartilhar também, é interessante porque os médicos e os profissionais, médicos, psicólogos, nutricionistas, educadores físicos, esses profissionais que estão trabalhando com o estilo de vida, eles têm um grande desafio: que é aplicar essas intervenções, essas mudanças, nesses hábitos, em si mesmo. Então, eu comecei também com 2014, eu estava numa fase que eu também estava sedentário, não fazia exercício, a minha alimentação não era boa, meu sono muito irregular. E eu percebi ao longo desses anos que adaptando a minha vida, fazendo tomada de decisões, escolhas, e eu também tive a oportunidade de trabalhar com professores nesses últimos anos, ajudando mais de 800 professores a também pensarem sobre mudança de hábitos. E eu vi em mim e nessas pessoas que eu trabalhei, esses resultados, de mudar esses pilares de uma maneira gradativa, não é uma coisa de um dia para outro, mas é um investimento. Então a pessoa pensar assim que ela está investindo nela para ela ter o que ela acha importante, seja as questões familiares ou a longevidade, se ela acha isso importante, se ela ficar livre de doenças. Então vale a pena pensar dessa forma. Não tem pílula mágica, esse que é o ponto principal. Porque quando a pessoa ficar doente, vai ter que tomar a decisão se vai operar, se vai tomar o remédio X ou Y, mas o ideal não é chegar nesse ponto. Então a gente tem que trabalhar essa visão de mudar os hábitos enquanto ainda não tem grandes consequências.
M: Sim, excelente conselho, doutor, faz muito sentido. É o melhor conselho de todos. Nós pedimos para a nossa audiência, antes da live, que elas enviassem perguntas, se elas queriam fazer alguma pergunta. E também recebemos algumas perguntas aqui durante a live. A primeira pergunta veio da Ildegard, que o senhor conhece, ela perguntou se o senhor tem algum argumento matador, um argumento que funcione melhor para fazer os pacientes saírem da zona de conforto.
R: O que eu posso dizer é o seguinte: a zona de conforto é uma zona de... Se a pessoa começar a trabalhar essa ideia de que a zona de conforto é a zona de estagnação e que depois da zona de conforto, saindo, tem uma dor, tem um desconforto e que o potencial, tudo de bom que a pessoa quer. Vamos pensar assim: tudo que a pessoa acha que é o melhor que ela vai conseguir na vida dela, em todos os sentidos, está depois dessa passagem. Por esse processo do desconforto saindo da zona de conforto. Então, aceitar como... Isso não tem outra possibilidade. Dentro da zona de conforto, tudo o que você tem de potencial não se realiza. Pode ficar sonhando dentro da zona de conforto, de olhos abertos, sonhando, sonhando, não vai se realizar. Isso aí está baseado hoje em muitos estudos em que a gente tem que reverter o nosso desejo de ficar na zona de conforto. Quando a gente trabalha o ser humano, nós temos esse córtex que fica atrás da testa, ele permite a gente sonhar com coisas, com o futuro, e aí fazer planos. Todos esses planos dependem da saída da zona de conforto. Esse é o principal argumento, porque a pessoa pode falar, então eu não quero fazer nada, então aí a pessoa fecha para isso, entendeu? Então se ela não quer sonhar, se ela não quer planejar, se ela não quer pensar numa vida melhor. Se ela ficar na dor de conforto, nada se realiza, nada se realiza.
M: Que duro, doutor! Que duro!
R: Não se realiza, não se realiza, infelizmente. Então se a pessoa sonha, ela vai falar “eu vou sair”: ela reverte esse desejo. E aí ela passa a desejar fazer, é que nem aquela coisa, eu quero sentir essa dor. Ontem eu estava treinando na musculação e eu falei para a minha treinadora: agora eu estou sentindo as dorzinhas - porque ela começou, eu troquei de treinadora, ela começou de leve, só com treinos com pesos baixos, não estou sentindo nada. Aí agora eu falei: olha, hoje agora eu sentia aquela dorzinha muscular, de o músculo estar sendo trabalhado, né, pra ser estimulado. Então, se você passa a desejar esse desconfortinho, você vai ter mais resultado. Eu tenho objetivos de melhorar a minha postura, eu tenho várias coisas que eu quero com a minha postura, com a minha saúde, com a minha massa muscular. Então, eu tô motivado, entendeu? Mas tem que passar pela dor, pelo desconforto, entendeu?
M: Entendi. Legal! Perfeito. Doutor, acho que era isso então que a gente tinha para conversar. Muito obrigada, foi excelente, excelente a live. Foi uma honra receber você aqui no canal do TELIX. Muito obrigada! Obrigado a vocês também que estão assistindo a live agora até o final! 52 minutos aí de live. Muito obrigada pela participação de vocês, pelos comentários, pela audiência e vamos em frente então! Vamos em frente, um abraço! [fim da gravação]
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